A Discografia da Música Popular Brasileira registra 54 denominações de sambas

A professora Marilia Trindade Barboza, por exemplo, (autora de biografias de Cartola, Paulo da Portela, Silas de Oliveira, entre outras) fez a seguinte análise sobre a bossa-nova como uma forma de samba com influências jazzísticas cujos artífices seriam Tom Jobim e João Gilberto:
"Tom Jobim disse que suas maiores influências foram francesas, de Debussy e Ravel. São esses os pilares de sua obra , que se traduziu no tipo de samba conhecido como bossa-nova. O jazz também sofreu essas influências. Já João Gilberto criou um estilo de tocar e cantar que abandonou a percussão africana, o baixo cantante do violão e a o "bel canto" popular, encontrado nas interpretações de Chico Alves e Orlando Silva, substituindo tudo por um estilo intimista, clean, muito mais identificado com as elites do que com as massas".
O advogado, compositor, cantor, escritor e pesquisador Nei Lopes, por sua vez, lembra que no "quesito Bossa-Nova temos de a obrigação de reconhecer a importância do Tamba Trio, Johnny Alf e João Donato".
Voltando no tempo, ouçamos a professora Graziela Salomão sobre canto e dança populares no Brasil do século XVIII. "Samba, gênero descendente do lundu, começou como dança de roda originada em Angola e trazida pelos escravos, principalmente para a região da Bahia".
Lundu e modinha, matrizes da MPB

- Porque aprofundei este tema na abertura do meu livro Na Cadência do Samba. A discordância é sobre o destino dos angolanos que, majoritariamente, vierem para o Rio de Janeiro.
Questões no ar, polêmicas no ciberespaço. Para evitar qualquer dano, a teia mundial, entra em cena a figura do mediador. Ele coloca a questão e os nossos convidados fazem suas colocações. Haroldo Costa e Graziela Salomão, por exemplo, têm opiniões diferentes quanto ao destino dos negros angolanos. Qual será a posição de Marilia Barboza?
"Alguns ajustes fazem-se necessários para não se misturar às estações", afirma ela.
A definição de lundu está perfeita (lundu e modinha, ambos do século XVIII, são as duas grandes matrizes da música popular brasileira). Mas a trajetória do samba é outra.

- O nome "samba" designava várias danças aparentadas, surgidas sincronicamente em vários pontos do país. E o "lundu" pode ser considerado um tipo de samba.

Para o sambista de Irajá," o samba se consolidou como símbolo da identidade nacional, ali, pelos anos 30. E aí, dessa época, atuante mesmo, só Caymmi".
A professora Graziela retoma o tema Bossa Nova. Ela destaca a influência da cultura musical americana nas harmonias de João Gilberto e Tom Jobim. O teclado é seu, Haroldo Costa:
- É uma impropriedade dizer que Bossa Nova não é samba. A música símbolo do movimento é Chega de Saudade, inegavelmente, no ritmo do samba. Tons Jobim e Vinicius fizeram Só Danço Samba Carlinhos Lira satirizou os que carregaram na tinta com a Influência do Jazz. Não há duvida que as harmonias são mais sofisticadas e pode-se notar a influência dos impressionistas como Debussy, por exemplo.
Há estudos, pesquisas, tese, livros que desenham uma corrente da Bossa-Nova, digamos, mais popular. Segundos estes os estudiosos, houve um racha encabeçado por Baden Powell e Vinícius de Moraes criadores do afro-sambas.
E hora de Marilia Barboza reproduzir a fala do grande Baden:

- O que se utiliza temas de candomblé e capoeira? Então, Edu Lobo e outros também fizeram afro-sambas. O que houve de dissidência foi uma corrente, Carlos Lyra à frente, que optou por temas sociais em vez do lirismo puro e simples.
Senhor mediador, qual e a próxima questão?
Uma corrente mais popular faria ressurgir o samba tradicional do morro no final da década de 60 nas vozes de Cartola, Nelson Cavaquinho e, mais adiante, Candeia, Chico Buarque de Holanda e Paulinho da Viola. Este mesclou o estilo ao choro e se transformaria em um ícone do samba tradicional para a corrente mais vanguardista até hoje. Correto?
Haroldo Costa:
- O samba é um ritmo mutante que se apresenta em várias categorias. O choro é esta riqueza que nós conhecemos. Sempre houve, e tudo indica que haverá sempre, cantores e compositores que enriquecerão estes dois gêneros intrinsecamente cariocas. Corte rápido, Nei Lopes:
- É mais ou menos isso, sim. Mas o samba tradicional sempre esteve junto com o choro, sempre foi acompanhado de violões, cavaquinho, pandeiro, flauta. Eu ouso dizer que o choro, ainda mais quando rápido ("chorinho") sempre foi uma forma de tocar samba.

Lacônica, a professora Marilia Barboza analisa as várias formas de sistematização do gênero (samba-reggae, samba-pop) como inevitáveis produtos da aldeia global, da globalização, da miscigenação musical que nos envolve e, às vezes, até afoga. A diversidade do samba, contudo, e fato, e unanimidade entre nossos mestres.
Bossa Nova, nada mais que samba
Professora Marilia quais seriam, então, as várias formas de samba?

Haroldo Costa lembra que Jorge Benjor é autor de um dos maiores na emergência da bossa nova um samba intitulado Mas Que Nada, que popularizou Sérgio Mendes no mundo inteiro. O samba sempre teve sobrenomes: canção, jongo, exaltação, e nunca deixou de ser samba. Quanto às varias formas de samba, resume-se em todos que têm o compasso 2/4. “No futuro o samba pode adotar várias configurações como seu primo-irmão, o jazz. Ele se reinventa sem perder a originalidade”.
Antes de sair da sala, Nei Lopes ressalta que todas as formas são formas de samba. Para ele, a relação vai do samba-de-roda da Bahia até o "baba" (meio Iê-Iê-Iê, meio sertanejo) dos raças-negras da vida. Sobre as fusões do samba no futuro, diz ele: "Dependendo do que o mercado quiser, do que as escolas de samba resolverem "inventar" pra incrementar aquele show cada vez mais pobre musicalmente. E da reação que isso tudo suscitar. Cada vez que o samba comercial vai ficando chato, o povão inventa um samba legal. Isso é imprevisível. Pode até voltar tudo como era. Se puderem, ouçam o novo CD da Velha-Guarda do Império Serrano. São tantas as possibilidades. O samba é fogo, não é Marilia?

As imagens do artigo são todas registradas em Creative Commons e são devidamente creditadas em ordem em que elas aparecem neste artigo [1], [2], [3], [4], [5], [6], [7], [8].
_____________________________________________
Nenhum comentário:
Postar um comentário