sexta-feira, 18 de abril de 2008

Guerrilha Aberta caminha firme e forte!

Assim começamos a nossa quinta edição da revista eletrônica Guerrilha Aberta. Muita coisa aconteceu durante esses dois meses de revista e muito temos sonhado. A revista já atingiu a marca de mais de 2.000 visitas*. Já chegamos a quase todo Brasil, atingindo principalmente o estado do Rio de Janeiro, onde também temos noticiados os principais eventos relacionados a arte nas ruas, mas também os estados de São Paulo, Belo Horizonte, Salvador e Recife, que têm se mostrado ativos e buscando um diálogo. O que demonstra um caminho a trilhar pela frente.

Por falar em caminho, a Revista Eletrônica Guerrilha Aberta dá um passo muito importante nessa quinta edição e recebe nossa primeira nova colaboradora: Manuelle Rosa, cursando o penúltimo periodo de jornalismo na PUC. Manuelle será nossa colaboradora nas artes visuais, mais especificadamente na área de cinema. Afinal de contas, ela se auto-define tão apaixonada pela sétima arte que já resolveu casar-se com o cinema, é mole? Ela também será nossa colaboradora em outras artes como poesia, fotografia, teatro, música, enfim...Por isso, gostaria de pedir a todos que a recebam bem!

A segunda novidade é que desde o mês de março, ganhamos um ano de domínio e hospedagem, do nosso primeiro parceiro, a empresa de hospedagem HostNet. O intuito é que possamos ter uma nova cara para a revista, assim como dominio próprio. O problema é que dentro da equipe interna não temos nenhum programador ou ainda web-designer. Dai, estamos recebendo contatos de web-designers e programadores para confecção do novo site. Entrem em contato, enviando portifólios (a principio estamos buscando profissionais, apenas do Rio de Janeiro).

Nossa quinta edição teremos duas entrevistas com casais de palhaços. São eles: Erika e Dodô e Henrique e Mariana. A Palhaçaria e o circo sempre privilegiaram a família e essa é a forma de dar uma singela homenagem a tantos outros casais e familias, sejam elas do universo do circo ou das artes cênicas. Outra novidade são os eventos gratuitos na rua, dando um destaque especial a "Saga de Jorge", espetáculo de teatro de rua que já rodou o mundo e narra as aventuras de São Jorge, apresentado pela Cia Brasileira de Mistérios e Novidades e nos espetáculos em teatro, destaque aos espetáculos da cia Brasiliense Celeiro das Antas, que estará últimas apresentações no Brasil, de dois espetáculos, antes do diretor e fundador do grupo Zé Regino ir dirigir trabalhos na Alemanha.

Por último, gostaria de deixar combinado que a revista a partir dessa edição terá periodicidade quinzenal fixa(de 15 dias em 15 dias), sempre publicadas às sextas-feiras (uma sim e outra não). Essa foi a forma que a revista encontrou, de continuar produzindo um bom conteúdo com entrevistas e matérias sobre eventos que acontecem no Rio de Janeiro e outras cidades (com a força de novos colaboradores). Na medida em que estamos contruindo um novo site.

Então, é isso...
Boa leitura!

*Os dados referentes a visitas são acompanhados pelo Google Analytics

Entrevista com Cia do Pequeno Teatro de Retalho

Primeira entrevista desta quinta edição, privilegiando os casais palhaços está a Companhia do Pequeno Teatro de Retalhos, composta por Henrique Escobar e Mariana Fausto. A Cia começa em 2002, em um intercâmbio de seis meses com mestra de Teatro de Animação (objetos, bonecos, mascaras), Magda Modesto. E daqui, começamos nossa entrevista:

Guerrilha Aberta: O que é o Pequeno Teatro de Retalhos? Vocês começaram em um intercâmbio em 2002, com Magda Modesto?
Retalhos: Sim, a partir daí começamos a investir bastante no Teatro de Bonecos - somos apaixonados pelo teatro de luvas, guignol tradicional e vertentes diferentes do clássico Punch and Judy, que no Brasil possui semelhanças no mamulengo do nordeste. Neste mesmo ano, 2002, começamos a investigar a linguagem do palhaço clássico também, que era nossa paixão. Somos da cidade grande e não conhecíamos palhaços de folias e reisados, e pouca coisa dos palhaços de circo tradicionais brasileiros. Nossos videos mostravam sempre o Grock, (norte-americanos e europeus). Tinhamos além disto um enorme interesse pelo trabalho realizado por palhaços em hospitais e toda a maneira de modificar e potencializar as relações inter-pessoais no ambiente hospitalar. o Charlie Rivel, o Popov , Joe Jackson Jr, George Carl, Chaplin, Keaton, Emmet KellyHoje em dia, o Pequeno Teatro de Retalhos possui uma sede no Meyer, onde realizamos pesquisas principalmente na arte do ator. Trocamos muito com grupos brasileiros e estrangeiros tentando não “cristalizar”. Nesta área é importante buscar sempre aprender coisas novas, aprofundar, lapidar o trabalho diariamente.


GA: Há muito tempo que conheço vocês, sobre o trabalho de palhaços que vocês realizam. Fiquei sabendo que vocês estão rodando muitas praças também no Rio de Janeiro. Como tem sido esse trabalho?
Retalhos: O trabalho na rua vem sendo desenvolvido ao longo de quase cinco anos. Há muito tempo que vamos para Pernambuco no verão de carro, até que um dia “deu o estalo” de também realizarmos apresentações. No inicio achávamos que ia ser moleza, mas o chapéu vinha minguadinho, mas com o tempo fomos percebendo muitas especificidades deste métier. Trocamos muito com mestres, fundamentais para nossa formação neste estilo de teatro, posso citar: o Chaco, o Léris, o Leo Bassi,o Tomate, a Makku, o Loco Brusca, o Libar,o Pepe, o Puccetti, fora outros tantos mestres amigos, aqueles da trocação de idéia na mesa de bar, seria impossível citar todos. Gente muito generosa em passar detalhes que fizeram toda a diferença!

GA: Como começou essa história de ser palhaço para vocês dois?
Retalhos: Fizemos um curso com o Luis Igreja da companhia do Gesto, em 2002 e fomos chamados para trabalhar na peça: A Menor Máscara do Mundo, dirigida por ele. Neste mesmo ano, fizemos um trabalho com o Simi do LUME e ficamos encantados com a qualidade e minúcia das pesquisas realizadas em Campinas. Depois fizemos vestibular para a Unirio e começamos em 2003 a realizar o treinamento junto a Enfermaria do Riso, coordenada pela Ana Achcar. Já em 2004 estavamos trabalhando no Hospital Gafree Guinle e também conhecemos o pessoal dos Doutores da Alegria no FILO, numa oficina com a Hillary Chaplain, do Clown Care Unit de N.Y. Penso que muito do que sabemos hoje, nossa filosofia com o trabalho e nossa técnica foi passada pelo pessoal do LUME, bem como de sues mestres. Os Colombaioni, a Sue Morrison e mesmo a experiência de Butoh que tivemos com o Tadashi foram fundamentais, além do querido Ricardo, nosso amigo e mestre, na concretização do que realizamos hoje. Em Dezembro, no Anjos do Picadeiro de Salvador pudemos conhecer melhor a Gardi Hutter, que para mim possui uma técnica e um estilo únicos.

GA: No meio dos palhaços, há muitas familias e casais que se destinam a trabalhar juntos. Como é essa relação para vocês dois? Vocês se dão bem ou levam a relação de casal para discutir, enquanto estão no picadeiro?
Retalhos: Realmente somos apaixonados pelo que fazemos e conversamos muito sobre nosso oficio, nosso artesanato. Pensamos muito no universo teatral, somos tragados constantemente por ele e por seus pensadores. Gostamos de trabalhar diariamente o detalhe, o minimalismo, bem como o grotesco. A cena exige muita parceria, presença, abertura, disponibilidade. O que é maravilhoso quando realizado com quem se ama. Tem época que estamos em projetos distintos e ficamos bastante tempo sem atuarmos juntos. O que não significa que não estamos mais num mesmo barco. Cada um possui características bem distintas do outro, o que ajuda na hora dos contrastes sempre bem vindos à cena cômica.

GA: Na atualidade, o que vocês poderiam dizer sobre trabalhar na rua? Já passaram algum sufoco? Ou é sempre tranquilo?
Retalhos: O trabalho na rua é bastante árduo. É necessário ter energia e disposição só para começar. O ego não pode inflar, pois a rua puxa o tapete de qualquer bom palhaço e é preciso muita técnica para se fazer dinheiro! Muito tempo, muito suor, muita humildade. O lugar do palhaço de rua é o lugar da humildade, por onde se vê a humanidade e a filosofia de quem faz, e também da adrenalina, pois além da exposição, o cachê não está certo. Além disso ainda tem a polícia, que de vez em quando cisma em vetar a apresentação. Uma boa convocatória, o número do chapéu , a filosofia final e os anos de apresentação determinam o sucesso de uma função callerera.



GA: Para finalizar, o que é ser artista, hoje, no Brasil?
Retalhos: Pensamos que ser artista é dialogar com a tradição de sua linguagem. Passar pelo clássico, pelo moderno e ver o que se faz na contemporaneidade, de modo a encontrar um estilo próprio. Muitos artistas começam bem parecidos, mas é importante descobrir diferenças nas maneiras de executar números, de criar lógicas, de sonhar espetáculos. O teatro é a arte da presença, um momento onde a platéia não só assiste como num filme, mas também participa, aplaude ou vaia. Um bom palhaço vê o que ninguém está vendo e tira graça disto ou lágrimas. Tanto faz se num hospital, CTI, teatro, circo, praça ou até mesmo numa festinha de aniversário. Pensamos nas possibilidades que cada espaço pode trazer, como dialogar com ele e com as pessoas que estejam lá, de modo a tentar puxar o tapete da forma cotidiana e hierarquizada de ver o mundo.

Entrevista com Cia Circular

A segunda entrevista privilegiando os casais de palhaços vêm com a Cia Circular, composta pelo casal: Érika e Dodô. Erika é mãe do filho Kairé, palhaça e professora, que tenta ser bailarina. Já Dodô é pai também do filho Kairé, palhaço e o que mais for. Ambos lidam com a arte com muita dignidade e segundo a própria Erika diz: "duas palavras que estão em mim: desejo e trabalho".


Guerrilha Aberta: Como começou essa história de ser palhaço para vocês dois?
Érika: Começou porque um amigo, Biel Fortuna, chamou a gente pra trabalhar em um espetáculo de circo-teatro para levar a comunidades de 12 municípios do Estado do Rio. Na nossa equipe tivemos a sorte de ter um palhaço. Aliás, palhaço não! Senhor Palhaço!! Na peça, eu e o Alexandre (Sr. Palhaço) fazíamos um número clássico de palhaçaria: O Cumprimento. Foi aí que o negócio pegou "nimim". Gostei da brincadeira! O Alexandre foi demais, aliás ele é um dos culpados por eu ter dado continuidade a isso! Depois veio o Richard e a Lílian (Café Pequeno e Currupita).
Eu achei que ser palhaça era meu destino! Fui muito animada fazer a oficina do Márcio Libar, A Nobre arte do Palhaço, e me fu... (pode falar assim na revista?) Enfim, sofri demais! No fim de uma semana de aulas, lá estava eu de nariz vermelho de tanto chorar! Fracassei na arte do fracasso e já que não tinha mais nada a perder, resolvi tentar.


GA:No último Anjos do Picadeiro. Vocês foram do Rio para Salvador, de carro e voltaram de carro, fazendo espetáculos. Viagem que durou 2 meses. Como foi essa experiência para vocês?
Érika: Foi uma experiência intensa do início ao fim. A viagem ao Anjos, os encontros com tantos outros palhaços do mundo inteiro (muuuuito o que aprender), os prejuízos: Nosso motor quebrou, acabou, partiu ao meio, no segundo dia. Mas tinha as pessoas, as paisagens, a estrada, a rua. Foram vários espetáculos em situações, variadíssimas que me deram dois grandes aprendizados: só se aprende fazendo (e quanto mais melhor) e que a rua é a rua: apaixonante, viva, democrática.


GA: No meio dos palhaços, há muitas familias e casais que se destinam a trabalhar juntos. Como é essa relação para vocês dois? Vocês se dão bem ou levam a relação de casal para discutir, enquanto estão no picadeiro?
Érika: Simples, não é. Mas quem disse que era para ser!? A relação entra em cena sim, até mesmo nas gags que a gente cria ou escolhe fazer. Eu acho que isso é um pouco natural, já que a matéria de trabalho do palhaço é o ser humano. E bota humano nisso!
Então, nossas questões ridículas, grotescas, amorosas, acabam virando material de pesquisa. Mas isso não significa que em cena estão Érika e Dodô falando da própria vida. A gente não é tão egocêntrico assim! Mas os assuntos que nos tocam acabam aparecendo. Ás vezes, do lado do avesso e aparecem muitas outras coisas que não tem relação com a nossa relação. Ficou confuso? E é mesmo.


GA: Lembro que em conversa com o Dodô, ele comentou que o grupo já teve muitos nomes e hoje se chama Circular Brincante. Vocês gostariam de dizer alguma coisa, em relação ao nome da cia? Hoje, a Cia tem algum espetáculo pronto?
Érika: Já foi Circular Brincante. Hoje é Cia.Circular. Mudamos porquê percebemos que o núcleo do nome era Circular e nisso que se baseia a identidade da Cia. Circular porquê o mundo é redondo (ou quase) e queremos fazer dele a nossa estrada. Espetáculos prontos temos alguns, mas isso vai depender é claro, do que você chama de pronto.
Na verdade estamos num momento de rever tudo, já que agora é que começamos a construir com mais clareza nossa identidade artística. O que a gente quer mostrar, dizer, provocar? Qual é a nossa cara? Enfim, o que é a Cia. Circular.

GA: Para finalizar, o que é ser artista para vocês, hoje, no Brasil?
Érika: Ser palhaça é minha chance de dar errado, num mundo guiado pelo sucesso. É minha chance de ser gente e de lidar com gente: derrotas, vitórias, felicidade, tristeza. O palhaço desarma as carapaças, deixando a mostra o que temos de mais frágil. Humanidade virou sinônimo de fraqueza. E quem quer se fragilizar num mundo de fortes?
Outro dia, no Campo de São Bento, em Niterói uma moradora de rua viu o Bagunçando o Coreto e veio me abraçar aos prantos: “Berinjela, vocês fazem as pessoas rirem!”. Ser artista é ao mesmo tempo maravilhoso e apavorante, como a vida. Estar em cena é sem dúvida o que eu mais gosto de fazer de tudo que eu conheço como trabalho. A possibilidade de ver as pessoas e ser vista por elas, me faz acreditar que não estamos tão sozinhos.
Quanto a ser artista hoje e no Brasil. Acho lamentável o abandono e o descaso com que a arte e a cultura são tratadas. Arte de rua então...Tem que querer muito pra ir adiante. Não somos ingênuos, isso não é por acaso. Arte é poder de transformação. Quem quer que as coisas se transformem? Ser artista no Brasil é resistir.

Brasilia invade o Rio com dois espetáculos de palhaços

Nesse final de semana, 19 e 20 de abril, o grupo Celeiro das Antas Companhia do Riso de Brasilia vai realizar as últimas apresentações, no Brasil dos espetáculos: "Era uma vez... Chapeuzinho Vermelho" (infantil) e "Bagulhar" (adulto), no Teatro da Caixa. O Grupo fundado em 91, por Zé Regino se dedica à linguagem cômica e à arte do palhaço. O Espetáculo "Era um vez... Chpauezinho vermelho" é uma livre adaptação da história infantil, onde os palhaços Zambelê e Lajota contam a sua própria versão da história. Já Bagulhar retrata o cotidiano dos moradores de rua sob a ótica de dois palhaços: Ogro e Micróbio.

Em ambos trabalhos são desenvolvidos através da linguagem cômica e do palhaço e serão encenado pela última vez no Brasil, já que Zé Regino irá para dirigir espetáculos na Alemanha. No primeiro espetáculo (infantil) busca unir a arte tradicional do palhaço, com técnicas modernas de dramaturgia, inspirados nos dramas de circo e na espontaneidade e graça de palhaços como Carequinha e Arrelia. Já Bagulhar é resultado do projeto “Vagabundos, Malandros e Outros Errantes”, contemplado com o Prêmio Funarte Petrobrás de Estímulo ao Teatro e busca vivenciar os dois lados da vida: a aridez e a fantasia, inspirados no cotidiano das ruas de Brasília e e personagens da literatura como Dom Quixote e Carlitos, onde tudo depende como você encara a vida.

O Grupo Celeiro das Antas Companhia do Riso desenvolve desde 2001, oficinas e mostras de teatro em dez cidades satélites do Distrito Federal e Entorno no projeto Teatro em Movimento da Cooperativa Brasiliense. Já Zé Regino, seu fundador, atualmente desenvolve um projeto de mestrado na UnB, que está dando origem a dissertação: "A Dramaturgia da Atuação Cômica" a ser defendida em abril de 2008. A direção do infantil é do próprio Zé Regino, onde divide cena, com o ator Elison Oliveira e Já Bagulhar tem direção de Denis Camargo e Ana Flávia Garcia.


SERVIÇO:

Era uma vez... Chapeuzinho Vermelho
Quando: 19 e 20 de abril de 2008 (sábado e domingo às 17h)
Local: Teatro da Caixa - SBS Qd 4 lotes 3/4, anexo do edifício Matriz da Caixa.
Ingressos: R$ 20,00 e 10,00 (meia-entrada).
Classificação Etária: Não recomendado para menores de 3 anos


Bagulhar
Quando: 19 e 20 de abril de 2008 (sábado às 21h e domingo às 20h)
Local: Teatro da Caixa - SBS Qd 4 lotes 3/4, anexo do edifício Matriz da Caixa.
Ingressos: R$ 20,00 e 10,00 (meia-entrada).
Classificação Etária: Não recomendado para menores de 12 anos

Espetáculo Pulitrica realiza temporada em Niterói

Durante o mês de março, três artistas ímpares se apresentaram no Largo do Machado, no projeto Boa Praça, são eles: Leo Carnevale, Raquel Aguilera e André Garcia Alves. Poderia dizer que os três espetáculos, apesar de serem espetáculos de palhaços de rua seguem em caminhos e rumos próprios, completamente diferentes um do outro.

Leo Carnevale, com seu espetáculo Pulitrica, encanta todas as meninas da rua, com seu jeito falastrão e seu charme impactante. Agrada criança, adolescentes, adultos, vovó e vovôs. Com sua energia aglutinadora consegue prender a atenção de poucos que vão se tornando dezenas, milhares e por ai (o céu é o limite). Para o próprio ator e diretor Leo Carnevale, durante os dois finais de semana que esteve na rua, o espetáculo foi passando por uma re-estruturação: "É importante estar vivo", onde cada elemento sonoro e visual era curtido no mesmo momento e aproveitado como tesouros antes não explorados. O espetáculo fala desse jeito falastrão, mas envolve certas habilidades, seja no campo do pensamento filosófico e das habilidades mágicas.

O espetáculo busca um lugar bem próximo das feiras, onde o artista está no caminho das pessoas e ao olharem o palhaço vêem alguém, falando de coisas óbvias, mas de outras formas diferentes e inovadoras. As pessoas se encantam pelo jeito simples e amoroso que o palhaço demonstra. Não seria besteira dizer que não há preconceito algum e todos as pessoas e habitantes da rua reconhecem-o, como sendo da rua. Eles chegam, interagem e vão ficando. Algumas vezes, até colaboram no chapéu (mesmo sem ter quase nada) e saem, satisfeitos. O espetáculo em cartaz desde 2005, traz hoje uma verdadeira brincadeira de criança, onde todas as idades se divertem.

SERVIÇO:
Espetáculo Pulitrica

Local: Largo de São José (Niterói)
Quando 19/04 às 18h

Próximas apresentações:
Local: Ingá (Niterói)
Quando: 26/04 às 10h

Manu: Filme foi feito para ser visto

Atenção cineastas! Tem um filme de até 15 minutos? Quer exibi-lo? É só chegar na Lapa no próximo domingo, dia 20 de abril, com uma cópia em DVD debaixo do braço e pelo menos R$ 10 no bolso. Organizado pela Love & Peace Organização, dos artistas Thomas Kaufmann e Eloy Machado, o evento Tela Aberta, que estréia no Cine Lapa nesta véspera de feriado, tem como conceito principal um cinema “democrático e interativo”: exibe qualquer produto audiovisual, sem avaliação prévia ou limitação de gênero.

Valem curtas-metragens de ficção, documentários, vídeos, animações, colagens de imagens, experimentais, trabalhos de faculdade, trechos de filmes não terminados, ou “outros trabalhos sem classificação, como afirma a produção. O objetivo, de acordo com o organizador Thomas Kaufmann, é dar espaço para a galera que faz cinema de forma independente. “A idéia surgiu porque eu trabalho com filmes experimentais e percebo que não há muito espaço para exibir esse tipo de filme”, diz.

Kaufmann está otimista com o evento. “A resposta tem sido muito boa. As pessoas ficam contentes com a idéia. Acho que teremos material para ocupar as três horas de mostra previstas”, acredita. A possibilidade de haver outras edições do evento, diz ele, dependerá da resposta do público.

Assim como em toda democracia (pelo menos na democracia indireta), no Tela Aberta há algumas poucas (e necessárias) restrições: os filmes devem ser gravados em DVD e ter no máximo 15 minutos de duração. Um dos participantes do filme deve estar presente durante a apresentação, e terá a opção de apresentar o filme ao público. A mostra começa às 20h e dura até às 23h, ou antes, caso se acabem os filmes. As obras podem ser entregues a partir das 19h e a exibição será por ordem de entrega. A entrada para todos custa R$ 10.

A partir das 23h, a noite segue com festa repleta de trilhas sonoras tocadas pelo DJ Medeiros, e à 1h da matina com apresentação ao vivo da dupla de música eletrônica, DNL BRTT + DRICO. Durante a festa, a tela será preenchida por projeções dos VJs Paulo China, Mossad, do coletivo S.O.M.O.S, TK e Eloy.

SERVIÇO:
Onde: Cine Lapa (Avenida Mem de Sá, 23 - Lapa)
Quando: Domingo, 20 de abril, às 20h (entrega dos filmes a partir das 19h)
Ingresso: R$ 10
Mais informações: www.loveandpeace.ch/telaaberta/


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QUEM É MANUELLE ROSA?
Manuelle Rosa é filha de Bil e Lena. Quase jornalista. casada com o cinema e amante das outras artes como poesia, fotografia, teatro, música e por ai vái. Sonhadora crônica, busca compartilhar experiências, conhecimentos e o que mais der.

A Saga de Jorge será apresentada no dia 23 de abril

Nessa próxima semana de abril, para quem não sabe ainda, no dia 23 de abril se comemora o dia de São Jorge, apresentado como mártir da igreja católica e como orixá da corrente do candomblé e umbanda. Em virtude dessa celebração, a Grande Companhia Brasileira de Mystérios e Novidades irá realizar duas apresentações do espetáculo "A Saga de Jorge". A primeira no SESC Madureira, no dia 23/04 às 14h e a segunda no dia 24/04 às 17h, no Largo do Machdo. Pode-se dizer que está quase um oportunidade única, já que a companhia mobilizou diversos atores espalhados pelo Brasil e estarão realizando o espetáculo, depois de terem rodado diversas partes do mundo, em lugares como: Romênia, Portugal, Colômbia, Hungria e participado do Palco Giratório, projeto de artes cênicas, desenvolvio pelo SESC, que consiste em levar espetáculos teatrais por todo o Brasil, com excessão do Rio de Janeiro e São Paulo.

A Saga de Jorge é um espetáculo teatral baseado na versão alagoana da Folia de Reis – “O Guerreiro” – contando em forma de folguedo, semelhante aos reisados, com seus dançadores e cantores multicoloridos. A história de São Jorge con tra os dragões da maldade e do caos, reconstituindo nesta celebração a figura mítica que se preservou nas mais diferentes culturas. Os textos são cantados e narrados e seguem a métrica cordel dos poetas populares. Dentre as linguagens artísticas, utiliza técnicas do teatro de rua, técnicas circenses (perna de pau) e danças populares para contar sua história.

A Cia Brasileira de Mysterios e Novidades foi criada nos início dos ano 90, na cidade de São Paulo, quando o retorno ao Brasil da diretora Ligia Veiga, que durante 5 anos atuou no Teatro Pirata - companhia italiana de teatro de rua. Já o espetáculo “A Saga de Jorge” foi montado com o Prêmio Flávio Rangel, da Secretaria do Estado de São Paulo em 1995.

SERVIÇO:
SAGA DE JORGE
Primeira apresentação:
Onde: SESC Madureira (Rua Ewbanck da Câmara, 90)
Quando: 23/04 às 14h

Segunda apresentação:
Onde: Praça Largo do Machado
Quando: 24/04 às 17h

ENTRADA FRANCA

SESC Tijuca realiza Amostra Gtátis com Otto

No próximo dia 24 de abril, o SESC Tijuca irá realizar mais uma edição do Amostra Grátis, a partir das 17h. Evento multi-artistico traz intervenções de teatro, poesia, dança, música, cinema/video e artes Plásticas. Nessa edição, o convidado será Otto com Laranja Dub,. Antes da apresentação músical, Otto e Laranja Dub realizam um workshop, onde além de ensaiarem o que vão realizar no show, sempre rola uma boa conversa entre os grupos, onde surgem curiosidade sobre como tudo aconteceu e pro ai vai.

Outras atrações confirmadas no universo do Teatro estáo o Palhaço Xodó, que realizará dois números: Perfidia e O Cristo, além do Teatro de ônibus e viagem do riso - BIG BUS e Confissões de uma Barbie com Juliana Carvalho. Já com a poesia estão: Madame Kasos e Adriana Monteiro e Marcelo Moacir, além de bandas como Marafos, OS Copos, Maui Trio e entre outras atrações.

Destaque especial a mediação de Palco, com André Luiz e seu número 1.434 personagens. André Luis é uma verdadeira cria do Amostra Grátis, onde a cada apresentação o número de personagens aumenta. Sempre lembrando que sempre começamos do número 1 e hoje ele já está no 1.434. Veja a programação completa do evento, no flyer abaixo (para aumentar a imagem, basta clicar nela) :
SERVIÇO:
AMOSTRA GRÁTIS!
Local: SESC Tijuca - R.Barão de Mesquita, 539
DATA: 24 de abril de 2008 às 17 hs
CONTATOS: Tels: 3238-2168/3238-2076
E-mails: tijuca.geringonca@sescrio.org.br
tijuca.jovem@sescrio.org.br
ENTRADA FRANCA

Festa ANTÍDOTO quer testar limites na Lapa

No próximo dia 26 de abril, às 22h será realizada a primeira edição da Festa ANTÍDOTO na PISTA 2 do Cine Lapa (Mem de Sá, 23 - Lapa). Uma festa que surge com a polêmica proposta de unir atividades artísticas com balada, sem ter limites onde começa uma e acaba outra! Para se ter idéia até produtor ataca como DJ e sala de exposição artistica se transforma em pista de dança, que muda a cada 40 min. de acordo com o DJ, entre: soul, rock, pop, drum n bass, eletro.

Durante o evento acontecerá exposição fotografica: "Mãos ao alto, isso é um retrato!" de Clayton Leite e a exposição "Narrativas Contemporâneas" dos alunos de Artes Visuais da UERJ. Ainda terá intervenção de Contente e performances durante a festa do palhaço Mister Looongo.

A festa também será a o point dos calouros de artes da UERJ, com shots de cachaça e o Djs serão: Rodrigo Van der Put (diretor de videoclipes), Carlos Contente (artista plástico e grafiteiro), Rafael Adorjan (ilustrador e fotógrafo), Felipe Fanta (ilustrador e designer) e Renato Jukebox (editor e ilustrador) e o VJ será Felipe Astolfi ( da festa Hacienda e Jukebox).


SERVIÇO:
Primeira edição da festa ANTÍDOTO
Local: Cine Lapa (Mem de Sá, 23 - Lapa)
Quando: 26 de abril a partir das 22h
Ingressos: R$15 normal / R$12 com flyer / R$10 para universitários
Promoções: Dose dupla de caipirinha e caipivodka até meia-noite e combo com 4 cervejas (Antarctica) por dez Reais, durante a noite toda.

Exposição traz retrato da população de rua pelo mundo

O doutorando em Ciências Sociais pela UERJ, Elionaldo Fernandes Julião organizou a exposição: "Cidades Invisiveís", com fotos sobre a população de rua pelas grandes metropoles, como: Rio de Janeiro, São Paulo, Argentina, Áustria, Chile, Eslováquia, Itália, Praga. Resultado da pesquisa dos últimos cinco anos, Elionaldo quer discutir a invisibilidade dos moradores de rua nas grandes metrópoles, expondo a fragilidade dos sistemas penitenciários e outras formas punitivas e mostrar ainda que hoje já existem até três gerações de famílias que moram nas ruas. A exposição fica até o dia 09 de maio e pode ser visitada de segunda a sexta-feira, das 8 às 21 horas, no andar térreo do Prédio John Wesley no Instituto Metodista Bennett, que fica no Flamengo.


A exposição reune 20 fotografias coloridas em diversos tamanhos e traz retratos de
famílias morando e trabalhando na Praça da Sé, em São Paulo; paraplégico pedindo esmola no centro do Rio de Janeiro; Homem comendo lixo no centro comercial de Praga; homens dormindo em ponto de ônibus de Lisboa; mulher dormindo em calçada de Santiago e mulher pedindo esmola aos turistas na porta do Coliseu.


Um dos objetivos do pesquisador é que a sociedade reflita sobre o espaço urbano e participem da discussão como um todo: "As contradições da sociedade punitiva, dentre outras, são necessárias análises das formas de vida nas áreas urbanas, principalmente compreendendo o seu caráter histórico de ocupação e adaptação no espaço que passaram a estimular a irrupção das forças de associabilidade e o rompimento do equilíbrio entre intimidade e solidariedade”, garante o sociólogo.


SERVIÇO:
Exposição Cidades Invisíveis - Fotografias de Elionaldo Fernandes Julião

Onde: Instituto Metodista Bennett (Prédio John Wesley - Térreo) - Rua Marquês de Abrantes, 55, Flamengo, Rio, 3509-1000

Quando:16 de abril a 09 de maio de 2008 de de seg. à sexta, das 8 às 21 horas;

ENTRADA FRANCA



sexta-feira, 4 de abril de 2008

A internet cresce como nenhuma outra mídia, no Brasil

Bom, abriimos o segundo mês da revista em circulação eletrônica e produzindo uma média de dez artigos por edição. Eu começo a me perguntar: "Quem quer se juntar a esta revista? Aglutinando infomações ou reunindo marcas? Onde estão as companhias de teatro e o que estão fazendo? Quais são os bares da boêmia carioca e o que oferecem? E quem são as empresas comerciais e de serviços e o que oferecem neste mercado brasileiro?". Como são perguntas que não ainda não terei respostas, continuo meu desvair. Desta vez, minha pergunta é: Por quê a internet cresce de forma desigual em relação aos outros veículos de comunicação, no Brasil?

A internet hoje atinge cerca de 30% da população brasileira, que se totalizam aproximadamente 54 milhões de pessoas, só no Brasil. A internet é um universo a parte. Totalmente ao contrário dos jornais, a internet é lugar para os especialistas, talvez seja o único veículo de comunicação que se desenvolve igualmente pelo resto do mundo, principalmente, quando falamos em relação ao conteúdo. Graças a internet, que a informação pode circular livremente, impossibilitanto muitas vezes a censura e é neste meio que vamos nos aprofundar neste editorial

Procurando responder a minha pergunta. Afirmo, baseada em dados estatísticos que os brasileiros passam mais de 13 horas na internet por dia. É a maior média do mundo! Acredita? São brasileiros, os donos desse título, você sabia disso? Depois disso, temos um público com idade média de 12 a 34 anos entre as mulheres e 12 a 64 anos, entre os homens. Isso é algo peculiar, pois segundo pesquisas, para as mulheres, a customuzação, como mudar as cores do navegador ou acrescentar pequenos softwares que se relacionem com ela, ainda são poucos, oque gera um desinteresse pela mídia eletrônica. Depois disso, vamos a educação, a internet hoje tem um maior número de pessoas com ensino fundamental completo e bacharelados, entre eles, especialistas em medicina e estudantes de outros cursos. Os dados que pouca gente discute é que o crescimento da internet têm no Brasil tem se dado de 10% por ano. Isto quer dizer que dentro de 7 anos, a internet será como a Televisão, no Brasil.

Daí, tudo se explica, isto é, se as pessoas passam mais tempo na internet e o público médio se dá a partir dos 12 anos, temos pelo menos uns 30 anos, de uso de internet. Afinal, os jovens de 12 anos irão crescer, se especializar e gastarão menos tempo na TV, no jornal, nas revistas e outros meios, até na rua, se der mole.

Uma questão que deixo para vocês pensarem é que com a internet, a mídia se populariza e chega ao acesso a produção de conteúdo e não apenas o consumo. Gosto sempre de citar uma frase do Centro de Mídia Independente – CMI, que diz: “Odeia a mídia? Seja mídia!”. Se você não entendeu, coloca a mão na massa, em portais de videos, sites de relacionamentos e redes sociais, como orkut, blogs e manda ver.. Distribua suas informações para seus amigos, que em relação ao passado e revendo a trajetória de Assis Chateaubriand, quando trouxe a Tv para o Brasil, você poderá com menos tempo e safadeza ter um bom veículo de comunicação nas mãos e viver dele, pelo menos, essa é a tentativa dessa revista.


AU REVOIR

As informações foram retiradas do Ibope net/Ratings (www.ibope.gov.br)

Entrevista com o mímico Jiddu Saldanha

Nosso primeiro entrevistado dessa edição é o professor de mímica Jiddu Saldanha, que como se auto-define é um artista que quer e luta por um mundo melhor. "Idealista e avesso a joguinhos políticos", como ele próprio se auto-define. Prefere muitas vezes ficar marginalizado, mas diz: "Quem me conhece sabe que sou fiel, amigo e cúmplice para todas as horas!".

Jiddu é mímico há pelo menos 20 anos, roda o Brasil com seus espetáculos desde 1988 e atualmente além de se apresentar, realiza oficinas de mímica. Entre os dias 05 e 09 de maio estará promovendo uma oficina de mímica, no espaço Cultural Mosaico Cultural, na Lapa. O que poucos sabem que ele começou a trabalhar como vendedor de picolé.

Guerrilha Aberta: De vendedor de picolé até professor de mímica. Como foi essa percurso? Estamos falando de quantos anos?
Jiddu Saldanha: Eu tenho 43 anos de idade e vendia picolé numa cidade fria: Curitiba, minha terra natal. Desde criança sempre fui artista no jeito de lidar com a realidade, mas depois fui fazer faculdade de teatro e caí no mundo onde já são 20 anos de carreira, com altos e baixos, mas nem pense em desistir!


GA: Você cita Luiz de Lima e Ricardo Bandeira como mestres que deram origem a mímica no Brasil, ambos já falecidos e esqueçidos. Durante o último festival de mímicos, realizado no último final de semana de março, no Rio. Você disse que a arte da mímica renasce das próprias cinzas. Poderia explicar melhor isso?
Jiddu: A mímica é uma arte muito antiga, muita gente não entende isso. Se por um lado é importante adquirir novos conhecimentos e quebrar paradigmas é também importante manter um vínculo com o passado. Nós, que optamos por fazer pantomima, somos marginalizados por alguns grupos que tentam "elitizar" o conhecimento, mas no final das contas o que sobrevive e fica é a história humana, o respeito aos antepassados e a coragem de querer estar na paisagem sem tirar o espaço de ninguém.

Uma boa parte dos mímicos brasileiros sequer conhecem Luis de Lima e Ricardo Bandeira, mas sabem tudo sobre os ícones da mímica francesa e inglesa. A falta de sentido histórico faz com que na mímica, como em todos os setores da sociedade, o brasileiro se comporte como um "ser domesticado" pelo pensamento cartesiano europeu. Táticamente, somos abertos a tudo o que é novo e também procuramos inovar em nossa arte, mas estratégicamente temos que combater a submissão do nosso sistema! Porquê ela tem um sentido simbólico de "libertação".

No último encontro de mímicos, organizados por peruanos que vieram ao Brasil especialmente para isso, percebemos o sentido de nossa marginalidade, mas compreendemos amor de nosso público, a pantomima vive: OS MÍMICOS VIVEM!


GA: Hoje, você não se considera apenas um mímico, mas um professor de mímica, não é? Como tem sido a experiência de suas oficinas? Alguém que já tenha feito se tornou mímico profissionalmente? Por falar nisso, como funciona o mercado dos mímicos no Brasil?
Jiddu: Gosto de dar aula porquê percebi que a mímica no Brasil está sendo deturpada por uma pequena "elite" que despreza a população e o gosto popular. Minha oficina é cheia de informações, sem preconceitos. Mostro tudo! O aluno aprende e se reapaixona por mímica, quebra os tabus e passa a valorizar mais o mímicos brasileiros.

Também escolhi ser professor para mudar o meu foco. Enquanto muitos mímicos foram buscar a técnica e pesquisar a estética, eu me voltei para o cuidado com nossa "classe". Estou sempre dialogando com todos, buscando um relacionamento sem nenhum tipo de julgamento. Com isso, tenho certeza que fiz uma ponte e contribuí de forma muito singela, de uma aproximação entre o público, o artista e os produtores culturais, além das instituições.

Também tenho uma missão, como mímico, de jamais deixar que se perca a memória de Luis de Lima e Ricardo Bandeira. Se esquecermos da luta desses dois artistas, estaremos fadados ao esquecimento também.



GA: Você diz que a mímica não é a arte do silêncio, mas a arte do gesto e que alguns mímicos até falam. Como isso funciona, na prática? Poderia nos dar alguns exemplos de mímicos que falam e como isso se aplica em cena?
Jiddu: Todos os mímicos falam com excessão daqueles que são surdo-mudos. Falar para um mímico é essencial, porque o silêncio é bonito esteticamente mas não explica tudo. Porém, existem mímicos que amam o silêncio e se sentem bem fazendo espetáculos silenciosos. Dois exemplos disso são o brasileiro Josué Soares e o francês Marcel Marceau. Eu conheci dos dois e confesso que posso passar horas ao lado deles, ouvindo seu silêncio ou suas falas, não importa porque são coerentes em suas escolhas.

A idéia de que o mímico não fala gera mal entendidos e cria uma distãncia entre os mímicos e outros artistas. Acho que a idéia de que a mímica seja "A Arte do Silêncio" foi um grande equívoco. Para mim, a mímica é a arte do "Gesto" mas que pode funcionar muito bem no silêncio. Isso acontece também com a pintura e pasmem até com a música. Em um certo sentido é a arte do silêncio porquê necessita desse intervalo para encontrar seu "som essencial"!


GA: Você diz que a arte da mímica nao é bem recebida pela mídia Brasileira e cita o mimico Santiago Galassi que diz: "A mímica jamais será moda no Brasil". Na sua opnião, há alguma explicação para isso?
Jiddu: Acho que é puro preconceito, se você olhar a maior parte das propostas para enquadramento de projetos culturais no brasil, você vai ver que a mímica raramente é citada. Quando você manda o projeto, ouve coisas como: "a gente quer um artista que fale", ou então olham o currículo para saber se você estudou nas escolas européias. A conclusão que cheguei é que uma boa parte dos técnicos de cultura no Brasil ignoram completamente nossa arte e acabam disfarçando sua ignorância com um certo tom arrogante, desprezando o trabalho de um artista como, por exemplo, meu mestre Everton Ferre que até 2002 havia atingido 8 milhões de espectadores em duas décadas de carreira. Mesmo tendo esses números a nosso favor, não somos levados a sério, mas seriedade no Brasil é sempre um termo discutível, não é?

Acho que, no fundo, nós vivemos de doações de nosso público, principalmente os mímicos populares que não fazem parte de elite nenhuma mas estão na paisagem!


GA: Para finalizar, na sua opnião, o que é ser artista, hoje?
Jiddu: Acho que temos de continuar combatendo a barbárie, antes os sistemas arracavam sua cabeça, quando você o contestava, hoje cortam sua luz, seu telefone e deixam sem comunicação, sem cuidado médico e sem contato com o "mundo produtivo". Nós, artistas, temos de continuar sendo uma referência de luta para os desvalidos, aqueles que nada possuem. Temos que de forma pacifica, mostrar que não concordamos com a mentira que hoje impera no mundo. Por outro lado, temos que ser amorosos, companheiros e fazer coisas juntos porque isso só melhora o mundo. Todos têm o dever de contribuir para melhorar o mundo e, nós artistas, estamos dentro desse projeto. Para mim o importante é saber que estou contribuindo para melhorar o MUNDO.


SERVIÇO:
OFICINA DE MÍMICA COM JIDDU SALDANHA
DATA: De 05 a 09 de maio, das 13 às 17h
LOCAL: Mosaico Cultural (Rua Joaquim Silva, 56/ 6º andar – Lapa)
INVESTIMENTO: R$ 250,00 (duzentos e cinqüenta reais) - Podendo ser parcelado em duas vezes: 50% no ato da inscrição e 50% em cheque pré-datado para o dia 05 de maio.
VAGAS: somente 20 alunos
Informações: 2537-0056/ 9713-6530 - ritaporto@terra.com.br


As fotos desta entrevista são de autoria de Ernani Bezerra

Entrevista com Florência, uma das produlhaças do Palhaços no Tumbal

Seguindo as entrevistas dessa quarta edição, a nossa segunda entrevistada é uma uruguaia, definitivamente adotada pelo Brasil, Florencia Santángelo Formento, mais conhecida entre todos, como Flor. Em 2004, ela chega no Brasil para estudar teatro em Belo Horizonte, com o Grupo Galpão e paralelamente, fazendo teatro de rua. Quando chegou no Rio de Janeiro, em 2007, juntou suas amigas e amigos e fundou um encontro de palhaços, chamado Palhaços no Tumbal, onde só ano passado, reuniu mais de 50 palhaços, com encontros me

Guerrilha Aberta: Você veio de outro país, nao é? E quando chegou por aqui, lembro, que chegou cheia de energia sobre realizar um evento que pudesse reunir palhaços, deu o nome de Palhaços no Tumbal? Conte-nos como surgiu essa idéia?
Flor: É verdade, eu vim do Uruguai. Cheguei no Brasil em 2004 para fazer um curso de teatro em Belo Horizonte, com o grupo Galpão. Fiquei por lá durante tres anos, fazendo teatro de rua com a Cia Malarrumada, e paralelamente todo curso de palhaço que aparecia, eu ia e fazendo. Em 2005 e 2006, participei de uma pesquisa de palhaços com alguns amigos, coordenada por Bete Penido e constituimos o grupo Hoje Tem Marmelada. Nós montavamos números que na verdade eram de palco, mas faziamos na rua porque não tinhamos espaço para apresentar! Assim me dei conta da falta desse espaço. Em 2007, vim morar no Rio e conheci a Marcinha, Giselle e Daniele (as Produlhaças), com as quais nos encontramos para começar uma pesquisa de palhaço. Ao mesmo tempo, meus amigos do Tumbão me chamaram para fazer alguma coisa lá…e Bingo! Falei com elas porque a gente não abria um espaço para uma pesquisa aberta? Ver filmes, apresentar números, trocar ideias e experiências… e assim surgiu Palhaços no Tumbao!

GA: Como foi o Palhaços no Tumbao ano passado? E como será esse ano, pode nos adiantar algumas surpresas, ou até mesmo apresentar para aqueles que não conhecem?
Flor: Foi muito bom! Tivemos uma resposta ótima tanto dos palhaços como do publico. Contamos com mais de 50 palhaços apresentando números de todo tipo. Essa mistura é o que a gente achou mais bacana: números solos e em dupla, de homens, de mulheres, de palhaços experientes e iniciantes, com linguagem mais circense, mais teatral. Em fim, cada apresentação foi uma surpresa! O evento foi pensado para isso: um lugar para apresentar números, intervenções, um lugar para testar. E funciona! O público adora assistir. É um publico aberto, participativo, que segue o evento e torce pelos palhaços! E o melhor: vai preparado porquê sabe que tudo pode acontecer!

Esse ano mudamos dia e hora, estaremos as sextas feiras a partir das 20 hrs. É uma experiência, estamos emplogadas com a ideia de gerar um clima mais bohemio, um cabaré mesmo de palhaços. Incorporamos um novo bloco que é a Prática Palhaçal: contaremos na primeira edição com Ana Luisa Cardoso que fará algumas brincadeiras para o público também poder experimentar a palhaçada. E contamos com outra intervenção super estréia, que é surpresa! Tem que comparecer pra conferir


GA: Você também é palhaça? Como surgiu essa coisa de ser palhaça na sua vida? E por falar nisso, ano passado, você começou a trabalhar nos Doutores da Alegria, como tem sido esse trabalho?
Flor:
Eu sou atriz e descubri essa coisa do palhaço fazendo oficinas, mas acho que entrei mesmo para esse mundo fazendo teatro de rua, fundamentalmente pela relação olho no olho que se estabelece com o público. Esse olhar ensina uma coragem muito grande, do tipo, “estou olhando pra você, se você não gostar de mim vou saber imediatamente, vai ser difícil, mas sei que posso tentar fazer aos pouquinhos com que você goste!” Esse vai-vem é muito importante! O jogo que se estabelece é verdadeiro, é uma troca real dentro de uma construção. É incrível! E é isso o que acontece muito no hospital. E uma brincadeira séria e maravilhosa! Eu ainda estou aprendendo, sou uma besteirologista em (de)formação.


GA: Jogo rápido: Se tivesse que escolher entre amizade e paixão. Qual você escolheria? Por quê?
Flor:
Amizades apaixonantes! Paixões amigas!


GA: Na sua opnião, o que é ser artista, hoje?
Flor: Viver fazendo arte?

SERVIÇO:
PALHAÇOS NO TUMBAL

Local: TUMBAO DE MALEVO
Rua Pascoal Carlos Magno 121 - Largo dos Guimarães - Santa Teresa - RJ
Data: Toda 2ª sexta-feira do mês a partir das 20h
Realização: As PRODULHAÇAS

Inscrições: palhacosnotumbao@yahoo.com.br
(Informando: Nome, palhaço, descrição do número e contatos).

Entrevista com o Grupo Sátira In Concert

Por fim, como disse na edição anterior, que seria algo expecional sempre ter três entrevistas por edição. Estou tentando manter esse padrão de qualidade, até porquê bons artistas são o que não falta nessa capital cultural do Rio de Janeiro. Essa terceira entrevista é com Her Agaptio, "moreno alto, de 1,97m de pura sedução e falta de noção", como ele próprio se auto-define. Her é produtor, músico e humorista, junto com Sérgio Stern, Marcio Sanchez e Andrea Spada formam o grupo Sátira In Concert:

Guerrilha Aberta: Desde quando e como se formou o Grupo Sátira In Concert e quais os trabalhos já realizados pelo grupo?
Her: O Sátira in Concert se formou a partir de 2003. Logo depois que mudei para o Rio. Já havia feito um trabalho de humor com Sergio Stern e Luciano Correa (que infelizmente não mais se encontra entre nós) chamado Orquestra.Zip. Então ao reunir a velha turma na mesma cidade tivemos idéia de fazer um novo grupo de humor. Convidamos o Marcio Sanches, que na época morava em São Paulo, mas que se amarrou tanto no trabalho, que acabou mudando para o Rio. A partir de então começamos a escrever o espetáculo, que levou uns 9 meses e fomos nos apresentando assim sem pressa. Comendo pelas beiradas, enquanto conciliamos nossos shows a nossos empregos.


GA: Quais as possibilidade de som para se fazer um violino? Como foi o processo de criação do número de Renan Calheiros, por exemplo?
Her: O violino, ao contrário do que possa parecer é um instrumento muito eclético que você não encontra apenas em orquestra fazendo música clássica. Existe violino em praticamente todas as músicas folclóricas pelo mundo. Celta, cigana, judaica, tango, country, mariachi e por aí afora. Eu sempre curti música folk e busquei aprender vários estilos musicais para se tocar no violino. Para você ter idéia, eu toco junto com o Marcio há uns 15 anos, neste intervalo, nós já tivemos grupos de música clássica, 2 mariachis (música mexicana), um grupo de músicas folclóricas (cigana, tango,...), ou seja a gente se amarra tocar o que o povo gosta. Costumamos dizer que temos PhD em Violino de Boteco!





O nosso processo de criação é muito doido. A gente se reúne e começa a falar (e tocar), merda. Aí a gente filtra e fica só com “la creme de la creme de la mérde”. Da quantidade sai a qualidade, somente bobagens fresquinhas são aproveitadas.


GA: Como surgiu a possibilidade de unir humor com música?
Her: A gente toca em orquestra há mais de 20 anos, não que sejamos velhos, mas começamos cedo. Com exceção do Sérgio, que é ator, mas cantou em coro durante muitos anos. Esses ambientes com muita gente descontraída, tende ao humor. É quase como uma sala de aula, a turminha do fundo fica fazendo gracinha para compensar a tensão da concentração. Pois nós éramos da turminha do fundo.


GA: Quais os seus idolos no mundo da música e do humor? O número da quinta sinfonia foi alguma espécie de homenagem a Beethoven?
Her:
Na música tenho muitos ídolos! Principalmente os atemporais. Na musica clássica, aqueles que o tempo não consegue apagar suas obras como Bach e Beethoven. Também aqueles que gênios revolucionários modernos que lançaram uma estética que vai ser seguida por muitas décadas como Puccini, Prokofiev e Villa Lobos. Talvez você nunca tenha ouvido Puccini e Prokofiev, mas a escola de composição, que faz trilha de cinema da maioria dos filmes que você assiste é baseada nestes dois caras. E o Villa Lobos é a fonte tanto para a música clássica brasileira como para a popular como Tom Jobim, Chico, Edu Lobo...




Na música Pop, eu gosto muito de Lulu Santos, Nando Reis e Cidade Negra, que também são músicos que não se deixam ficar demodés. Eu tenho a impressão que daqui a 30 anos os velhinhos vão continuar fazendo um som atual, antenado nas melhores estéticas modernas e vendendo muito disco pros nossos filhos e netos.





Quanto a Beethoven, é um dos maiores gênios que a humanidade já produziu. As pessoas merecem conhecê-lo. Imagina você morrer sem ter a oportunidade de ver o mar, ou comer um morango, ou ver um quadro do Klimt. É como ouvir Beethoven. Vale a pena conhecer, nem que seja através das nossas sátiras. A gente fantasia, sacaneia até, e muita gente vai para casa curiosa em saber o quanto a gente mentiu e quanto falou a verdade. E vai pra internet pesquisar e descobre um tesouro enterrado no seu quintal. Eu acho que o Beethoven não deve ligar para as nossas sacanagens, deve estar se divertindo lá onde estiver. Afinal na sua última sinfonia composta ele fez uma declaração de que a alegria é a grande redentora da humanidade.



GA: Para vocês, do Sátira In Concert, o que é ser artista no Brasil?
Her: É maravilhoso trabalhar com o que gosta e morar onde você gosta. Se eu tivesse a opção de escolher moraria no Brasil e seria artista. Talvez vocês não saibam, mas o mundo morre de inveja da gente. Queriam morar aqui, ainda mais no Rio. Queriam viver tocando violão, ou recitando poesia, ou fazendo qualquer arte. A música brasileira lá fora é tão respeitada e consumida quanto o futebol. O dia que nós conseguirmos ter uma industria de entretenimento tão forte como a americana. Nós vamos ver muita gente ficando rica com música e arte. Ser artista no Brasil é ter a vida que todo mundo pediu a Deus. Agora, capitalizar sua arte e ganhar dinheiro é outra história. Há que se aprender a administrar sua carreira e obra. E temos que parar com o complexo de terceiro mundo, esse que acha que só é feliz quem fala com a língua enrolada.