quarta-feira, 26 de março de 2008

Entrevista com Leo Carnevale, o palhaço Xodó

Estreando nossa coluna fixa de entrevistas, O Guerrilha Aberta entrevistou nada mais, nada menos do que Leo Carnevale, palhaço, ator e diretor, nascido em Petrópolis, mas que com apenas um ano de idade, seus pais se mudavam para o Rio de Janeiro, mais especificadamente no subúrbio de Cascadura, onde o bonde fazia ponto final e vários circos se apresentavam.

GA: Desde quando, você se dedica a atividade artistica? E quanto tempo você se dedica ao universo da palhaçaria?
Leo: Sou artista desde 1987 a 1991, como amador e de 1992 em diante como profissional. Desde de 1999 sou o palhaço Afonso Xodó, ano que vem farei dez anos de palhaçaria.

GA: Durante muito tempo, você percorria as feiras da Glória até catete, de palhaço? Qual o melhor aprendizado que você tirou dessa realização?
Leo: Sim, fiz este percurso por três anos de 2001 a 2003, circulando, conversando e fazendo amigos, de palhaço. É muito engraçado, neste trajeto que ainda hoje faço, mas não de palhaço, existem muitas pessoas que não me conhecem, mas conhecem meu palhaço. São amigas do Xodó, mas não sabem quem é o Leo Carnevale.
Junto a todas as oficinas de palhaço que já fiz, este processo de encontro direto com o público, passeando pelas ruas da Glória, provocou um grande amadurecimento na maneira como meu palhaço se relaciona com as pessoas.

GA: Nesse mês de março, você junto com outros artistas realizaram uma temporada no Largo do Machado. Como você avalia hoje, trabalhar nas pelas praças e ruas?
Leo: A realização do terceiro projeto Boa Praça 2006/07/08 é a prova como é possivel realizar um evento de qualidade nas ruas, com poucos recursos. O Rio de Janeiro é uma cidade privilegiada de sol, de luz, o que chama as pessoas para a rua, para o encontro. Essa terceira ação do projeto Boa Praça, Solos de Quintal, foi justamente isso transformar a Praça do Largo do Machado no quintal de casa, onde brincamos, nos refestelamos e descansamos. Anteriormente foi realizado em 2006, "Os mestres de cerimônia", no seminário de teatro educação do CBTIJ, na Lagoa Rodrigo de Freitas, quando fomos os apresentadores do evento. Em 2007, o espetáculo de variedades "Vem Que Tamú Chegando" que circulou por doze praças de todas as regiões do Rio, com o Prêmio Miriam Muniz de Teatro da FUNARTE. Sinto que cada vez mais as pessoas precisam deste encontro. No solos de Quintal tivemos um público aproximadamente de 1500 pessoas em dois finais de semana (o projeto tinha três finais de semana, mas no segundo choveu), o que dá 375 pessoas por apresentação, ou seja, trabalhar na rua, vale a pena, o público está lá.

GA: Você está construindo um novo espetáculo. Poderia adiantar sobre o que se trata? E quando estréia?
Leo: Sim, estou produzindo um novo espetáculo, mas ainda está no começo do processo criativo. Não tem ainda um nome definitivo, nem data de estréia. Estou agora no processo de gestação, onde começo a reunir material, testar algumas coisas, trocar com pessoas que fazem parte da minha equipe de trabalho, brincando na sala de trabalho, escrevendo, reescrevendo até ficar totalmente tomado pela criação. Meu processo é um pouco assim, vou me imbuindo do que quero falar, pesquisando, juntando idéias, depois na sala de trabalho vou burilando junto a uma equipe de artistas e técnicos, mas ainda está no começo.

GA: E sobre esse seu número o Cristo, você teria alguma coisa para falar sobre ele? Ou algo sobre os cariocas?
Leo: Adoro este numero, pois posso dialogar direto com o espectador, brincar com ele, traze-lo para o jogo, envolve-lo. Não é um número sobre cariocas, é sobre a invenção de 'deuses'. Tem que ser realizado com ajuda de um "homem forte", homem este que inventou Deus para que então Deus inventasse ele, homem. Somos deuses então! Por isso posso atravessar um corda pelo peito deste homem sem feri-lo, sem machuca-lo (Como mostra o video abaixo).



GA: Finalizando, para você, o que é ser artista no Brasil?
Leo:
É acreditar que realizar seus sonhos é algo possível. É dialogar com o outro, mostrando seu ponto de vista e escutando o ponto de vista do outro. É imitar a vida e vive-la na arte, é a magia.

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