quarta-feira, 26 de março de 2008

Entrevista com Tigrão, o príncipe da brutalidade

Mais conhecido como o “Príncipe da brutalidade”, pela sua força extrema, Tigrão, que recentemente ganhou mais um novo título: “O Terror da Lapa”, dado por Márcio Libar, nas duas últimas edições do Riso de Janeiro. Na realidade é um gaúcho de Porto Alegre, morador da Lapa, chamado Fabrício Dorneles, que há 10 anos atrás, decidiu largar uma carreira promissora na área da computação pelo Circo. É com ele que conversamos a seguir:


Guerrilha Aberta: Quem é Fabrício Dorneles? Como foi trocar computadores por Circo?
Fabrício: Troquei de carreira, pois eu não queria passar a vida dentro de um laboratório, na frente de uma tela de computador. Comecei meu outro caminho, vim para o Rio e fiz Escola de Circo. Nesse meio tempo tomei contato com o palhaço e vi que era aquilo que iria me salvar e dar o foco na minha vida. Comecei a me embrenhar nessa arte, me aproximando de grupos e mestres, como Teatro de Anônimo, Márcio Libar, Sérgio Machado, Palhaço Bicudo, LUME, Leo Bassi, Chacovachi. Foi a minha escola inconstante e informal, em minha opinião a melhor de todas.
No começo fundei o grupo Recital Acrobático, no qual trabalhei por três anos. Logo após comecei uma outra empreitada com o Circo Grog e hoje em dia faço parte do Circo Dux, grupo do qual sou fundador também.

GA: Você trabalha no universo da comédia física? Quando e como você começou a descobrir e praticar esse universo?
Fabrício:
Sim, comédia física. Comecei em 2002, em uma oficina de Iniciação com a Ana Elvira Wuo, ex-integrante do LUME.

GA: Você faz parte de um coletivo de artistas, chamado Circo Dux. Como se formou esse coletivo? E hoje, o que ele representa na sua vida?
Fabrício: O Dux formou-se em 2005, nas conversas com o Cláudio Parente, que havia recém chegado da Espanha, onde trabalhou no Circ Cric do Tortell. Eu estava sozinho, meu antigo grupo, o Circo Grog havia se desfeito. A gente queria muito conseguir viabilizar o nosso trabalho de forma autônoma e independente. Daí, fomos contratados para uma apresentação no Festival de Inverno do Sesc e montamos um espetáculo em dois meses: eu, Cláudio e Dani de Castro. Foi um sucesso! Logo depois chegou o Lucas, meu grande parceiro, a Dani ficou grávida e montamos o "Dux+3", que é o nosso espetáculo atual, que ganhamos o prêmio Carequinha e apresentamos em vários festivais.
O Dux é o meu negócio, e nele é que eu mais concentro as minhas forças e o meu empenho. Não é nada fácil, mesmo sendo apenas três no grupo atualmente. Toda hora temos que lidar com as individualidades artísticas de cada um, os anseios, os desejos, as agendas, mas no final de tudo, para mim, é melhor coisa, não queria estar em outro lugar.

GA: Como surgiu o seu nome: Príncipe da brutalidade? E como você está se relacionando com seu mais novo título: O terror da Lapa? Como você se relaciona com o bairro?
Fabrício:
O nome Príncipe da Brutalidade foi idéia do Sérgio Machado, meu grande amigo e nosso diretor, que por sinal criou todo o texto do número que é ótimo. Desde que cheguei no Rio, há dez anos, morei em Santa Teresa. Faz dois anos que moro na lapa. E adoro, adoro a Lapa. Aprendi a gostar daqui, me divirto, caminhando a tarde pela lapa, vendo os tipos que só tem aqui. A Lapa é como se fosse minha cidade, aqui saio à noite, trabalho, namoro e estudo.

GA: Como você se sente quando está em cena? Pergunto isso, pois quando você faz o número da corrente e da lista telefônica, em que você parte ambas ao meio, você fica todo vermelho e as pessoas comentam.
Fabrício: Palhaço, apesar de achar muita responsabilidade, de dizer que sou palhaço. Já ouvi e acho certo, "só existe um tipo de palhaço. O palhaço bom, se não é palhaço, é outra coisa". Um dia eu chego lá. Não uso nariz, não consigo. Na verdade descobri essa coisa do tigrão que funciona em mim, mais ou menos como alguém em um mato fechado, tentando achar uma saída. Achei uma trilha... é o "estado", tem funcionado cada vez mais, me divirto fazendo, me divirto buscando novos números truques, novas piadas.


GA: Você se considera um homem forte?

Fabrício:
Tenho alguma força sim, sou portô de acrobacia e meu trabalho exige isso. Agora em um sentido mais "subjetivo", acho que também sou forte, ser artista no Brasil exige isso também.



GA: Na sua opinião, o que é ser artista no Brasil?

Fabrício:
Eu acho que se não for perseverante, não rola. Se não tiver jogo de cintura, não rola também, mas acho que não é um privilégio só do Brasil e nem do meio artístico. No mundo você tem algumas exceções que são seguras e confortáveis, como algum filho de milionário. Alguns países do primeiro mundo pode dar sorte de sair de uma multinacional e conseguir um emprego bem remunerado e seguro, mas fora isso, é perseverança e jogo de cintura!
Argentina, Colômbia, Brasil, México, Portugal até Espanha. Só consegue quem tem algum talento e aprende as regras do jogo. É claro que quando se é artista, você está lidando com algo que não é considerado de primeira necessidade, o que torna as coisas um pouco mais difíceis. Daí temos que aprender a lidar com isso, mas acho que cada área tem a sua dificuldade também... Ossos do ofício!

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