A segunda entrevista privilegiando os casais de palhaços vêm com a Cia Circular, composta pelo casal: Érika e Dodô. Erika é mãe do filho Kairé, palhaça e professora, que tenta ser bailarina. Já Dodô é pai também do filho Kairé, palhaço e o que mais for. Ambos lidam com a arte com muita dignidade e segundo a própria Erika diz: "duas palavras que estão em mim: desejo e trabalho".
Guerrilha Aberta: Como começou essa história de ser palhaço para vocês dois?
Érika: Começou porque um amigo, Biel Fortuna, chamou a gente pra trabalhar em um espetáculo de circo-teatro para levar a comunidades de 12 municípios do Estado do Rio. Na nossa equipe tivemos a sorte de ter um palhaço. Aliás, palhaço não! Senhor Palhaço!! Na peça, eu e o Alexandre (Sr. Palhaço) fazíamos um número clássico de palhaçaria: O Cumprimento. Foi aí que o negócio pegou "nimim". Gostei da brincadeira! O Alexandre foi demais, aliás ele é um dos culpados por eu ter dado continuidade a isso! Depois veio o Richard e a Lílian (Café Pequeno e Currupita).
Eu achei que ser palhaça era meu destino! Fui muito animada fazer a oficina do Márcio Libar, A Nobre arte do Palhaço, e me fu... (pode falar assim na revista?) Enfim, sofri demais! No fim de uma semana de aulas, lá estava eu de nariz vermelho de tanto chorar! Fracassei na arte do fracasso e já que não tinha mais nada a perder, resolvi tentar.
GA:No último Anjos do Picadeiro. Vocês foram do Rio para Salvador, de carro e voltaram de carro, fazendo espetáculos. Viagem que durou 2 meses. Como foi essa experiência para vocês?
Érika: Foi uma experiência intensa do início ao fim. A viagem ao Anjos, os encontros com tantos outros palhaços do mundo inteiro (muuuuito o que aprender), os prejuízos: Nosso motor quebrou, acabou, partiu ao meio, no segundo dia. Mas tinha as pessoas, as paisagens, a estrada, a rua. Foram vários espetáculos em situações, variadíssimas que me deram dois grandes aprendizados: só se aprende fazendo (e quanto mais melhor) e que a rua é a rua: apaixonante, viva, democrática.
GA: No meio dos palhaços, há muitas familias e casais que se destinam a trabalhar juntos. Como é essa relação para vocês dois? Vocês se dão bem ou levam a relação de casal para discutir, enquanto estão no picadeiro?
Érika: Simples, não é. Mas quem disse que era para ser!? A relação entra em cena sim, até mesmo nas gags que a gente cria ou escolhe fazer. Eu acho que isso é um pouco natural, já que a matéria de trabalho do palhaço é o ser humano. E bota humano nisso!
Então, nossas questões ridículas, grotescas, amorosas, acabam virando material de pesquisa. Mas isso não significa que em cena estão Érika e Dodô falando da própria vida. A gente não é tão egocêntrico assim! Mas os assuntos que nos tocam acabam aparecendo. Ás vezes, do lado do avesso e aparecem muitas outras coisas que não tem relação com a nossa relação. Ficou confuso? E é mesmo.
GA: Lembro que em conversa com o Dodô, ele comentou que o grupo já teve muitos nomes e hoje se chama Circular Brincante. Vocês gostariam de dizer alguma coisa, em relação ao nome da cia? Hoje, a Cia tem algum espetáculo pronto?
Érika: Já foi Circular Brincante. Hoje é Cia.Circular. Mudamos porquê percebemos que o núcleo do nome era Circular e nisso que se baseia a identidade da Cia. Circular porquê o mundo é redondo (ou quase) e queremos fazer dele a nossa estrada. Espetáculos prontos temos alguns, mas isso vai depender é claro, do que você chama de pronto.
Na verdade estamos num momento de rever tudo, já que agora é que começamos a construir com mais clareza nossa identidade artística. O que a gente quer mostrar, dizer, provocar? Qual é a nossa cara? Enfim, o que é a Cia. Circular.
GA: Para finalizar, o que é ser artista para vocês, hoje, no Brasil?
Érika: Ser palhaça é minha chance de dar errado, num mundo guiado pelo sucesso. É minha chance de ser gente e de lidar com gente: derrotas, vitórias, felicidade, tristeza. O palhaço desarma as carapaças, deixando a mostra o que temos de mais frágil. Humanidade virou sinônimo de fraqueza. E quem quer se fragilizar num mundo de fortes?
Outro dia, no Campo de São Bento, em Niterói uma moradora de rua viu o Bagunçando o Coreto e veio me abraçar aos prantos: “Berinjela, vocês fazem as pessoas rirem!”. Ser artista é ao mesmo tempo maravilhoso e apavorante, como a vida. Estar em cena é sem dúvida o que eu mais gosto de fazer de tudo que eu conheço como trabalho. A possibilidade de ver as pessoas e ser vista por elas, me faz acreditar que não estamos tão sozinhos.
Quanto a ser artista hoje e no Brasil. Acho lamentável o abandono e o descaso com que a arte e a cultura são tratadas. Arte de rua então...Tem que querer muito pra ir adiante. Não somos ingênuos, isso não é por acaso. Arte é poder de transformação. Quem quer que as coisas se transformem? Ser artista no Brasil é resistir.
Érika: Começou porque um amigo, Biel Fortuna, chamou a gente pra trabalhar em um espetáculo de circo-teatro para levar a comunidades de 12 municípios do Estado do Rio. Na nossa equipe tivemos a sorte de ter um palhaço. Aliás, palhaço não! Senhor Palhaço!! Na peça, eu e o Alexandre (Sr. Palhaço) fazíamos um número clássico de palhaçaria: O Cumprimento. Foi aí que o negócio pegou "nimim". Gostei da brincadeira! O Alexandre foi demais, aliás ele é um dos culpados por eu ter dado continuidade a isso! Depois veio o Richard e a Lílian (Café Pequeno e Currupita).
Eu achei que ser palhaça era meu destino! Fui muito animada fazer a oficina do Márcio Libar, A Nobre arte do Palhaço, e me fu... (pode falar assim na revista?) Enfim, sofri demais! No fim de uma semana de aulas, lá estava eu de nariz vermelho de tanto chorar! Fracassei na arte do fracasso e já que não tinha mais nada a perder, resolvi tentar.
GA:No último Anjos do Picadeiro. Vocês foram do Rio para Salvador, de carro e voltaram de carro, fazendo espetáculos. Viagem que durou 2 meses. Como foi essa experiência para vocês?
Érika: Foi uma experiência intensa do início ao fim. A viagem ao Anjos, os encontros com tantos outros palhaços do mundo inteiro (muuuuito o que aprender), os prejuízos: Nosso motor quebrou, acabou, partiu ao meio, no segundo dia. Mas tinha as pessoas, as paisagens, a estrada, a rua. Foram vários espetáculos em situações, variadíssimas que me deram dois grandes aprendizados: só se aprende fazendo (e quanto mais melhor) e que a rua é a rua: apaixonante, viva, democrática.
GA: No meio dos palhaços, há muitas familias e casais que se destinam a trabalhar juntos. Como é essa relação para vocês dois? Vocês se dão bem ou levam a relação de casal para discutir, enquanto estão no picadeiro?
Érika: Simples, não é. Mas quem disse que era para ser!? A relação entra em cena sim, até mesmo nas gags que a gente cria ou escolhe fazer. Eu acho que isso é um pouco natural, já que a matéria de trabalho do palhaço é o ser humano. E bota humano nisso!
Então, nossas questões ridículas, grotescas, amorosas, acabam virando material de pesquisa. Mas isso não significa que em cena estão Érika e Dodô falando da própria vida. A gente não é tão egocêntrico assim! Mas os assuntos que nos tocam acabam aparecendo. Ás vezes, do lado do avesso e aparecem muitas outras coisas que não tem relação com a nossa relação. Ficou confuso? E é mesmo.
GA: Lembro que em conversa com o Dodô, ele comentou que o grupo já teve muitos nomes e hoje se chama Circular Brincante. Vocês gostariam de dizer alguma coisa, em relação ao nome da cia? Hoje, a Cia tem algum espetáculo pronto?
Érika: Já foi Circular Brincante. Hoje é Cia.Circular. Mudamos porquê percebemos que o núcleo do nome era Circular e nisso que se baseia a identidade da Cia. Circular porquê o mundo é redondo (ou quase) e queremos fazer dele a nossa estrada. Espetáculos prontos temos alguns, mas isso vai depender é claro, do que você chama de pronto.
Na verdade estamos num momento de rever tudo, já que agora é que começamos a construir com mais clareza nossa identidade artística. O que a gente quer mostrar, dizer, provocar? Qual é a nossa cara? Enfim, o que é a Cia. Circular.
GA: Para finalizar, o que é ser artista para vocês, hoje, no Brasil?
Érika: Ser palhaça é minha chance de dar errado, num mundo guiado pelo sucesso. É minha chance de ser gente e de lidar com gente: derrotas, vitórias, felicidade, tristeza. O palhaço desarma as carapaças, deixando a mostra o que temos de mais frágil. Humanidade virou sinônimo de fraqueza. E quem quer se fragilizar num mundo de fortes?
Outro dia, no Campo de São Bento, em Niterói uma moradora de rua viu o Bagunçando o Coreto e veio me abraçar aos prantos: “Berinjela, vocês fazem as pessoas rirem!”. Ser artista é ao mesmo tempo maravilhoso e apavorante, como a vida. Estar em cena é sem dúvida o que eu mais gosto de fazer de tudo que eu conheço como trabalho. A possibilidade de ver as pessoas e ser vista por elas, me faz acreditar que não estamos tão sozinhos.
Quanto a ser artista hoje e no Brasil. Acho lamentável o abandono e o descaso com que a arte e a cultura são tratadas. Arte de rua então...Tem que querer muito pra ir adiante. Não somos ingênuos, isso não é por acaso. Arte é poder de transformação. Quem quer que as coisas se transformem? Ser artista no Brasil é resistir.
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