quinta-feira, 17 de julho de 2008

Entrevista com Ana Luisa Cardoso

Nessa décima primeira edição da revista, entrevistamos a atriz, diretora, professora e palhaça Ana Luisa Cardoso. Ana Luisa é carioca, apesar dela mesmo dizer parecer gringa, por se dizer: "branca azeda". Segundo ela mesma, a profissão que escolheu foi de comunicadora. Apesar de ser séria, tem bom e mau humor e é totalmente fiel aos seus amigos, sonhos e princípios. "Tenho sorte de ter pais bacanérrimos que apoiaram a minha escolha e de viver na Cidade ainda Maravilhosa. Sou totalmente apaixonada pelo circo, gosto de pesquisar e tenho prazer de compartilhar o conhecimento, se não, não tem graça".
Com vocês: ANA LUISA CARDOSO!


Guerrilha Aberta: Há quantos anos você e dedica a palhaçaria? E como você começou a descobrir esse universo dos palhaços?
Ana Luisa Cardoso: Este ano celebro 20 anos! Nossa é tempo...E a "luta" não termina. O começo vem de assistir na minha infância, o palhaço Carequinha e os clássicos do Gordo e o Magro, Chaplin e Jerry Lews. Mas foi em Cuba num festival de teatro que vi pela primeira vez jovens atores como eu, fazendo um espetáculo de palhaços, o grupo era o argentino El Clú del Claun, ficamos amigos. Voltei com vontade de fazer algo parecido. A Intrépida Trupe também alimentou essa minha vontade com seus espetáculos e com os palhaços Xuxu, Dudu e o Geraldin, a Escola Nacional de Circo e o Circo Voador. Foi então que em 1988, fui para Buenos Aires fazer um curso com o El Clú. Voltei com a Margarita (esboço) e como uma amiga, a atriz Claudia Puget também experimentava o nariz vermelho, saíamos no seu Gordini vermelho pelas ruas do Rio. Foi um ótimo início...

Lembro que uma vez o Xuxu deu uma volta conosco; e um dia encontramos o Carequinha (sem a careca e o nariz), que nos deu a maior força! Desde então fiz cursos, comecei a dar aula, mas foi em 1991 quando organizei um curso com um ator do Clú del Claun aqui no Rio, que formou o grupo As Marias da Graça. Foram 10 anos de trabalho e de muitas realizações, foi uma época de muitas descobertas nossas e de muitos colegas. O Encontro Anjos do Picadeiro e os papos com Alice Viveiros são fundamentais para a minha formação. A separação com As Marias foi muito dolorosa para mim, mas necessária. Fiquei reclusa, continuei com minhas oficinas em projetos sociais e iniciei outro projeto: a pesquisa com melodramas de circo. E em 2006 com o premio Estímulo de Circo pude finalmente apresentar o meu projeto (antigo) de dramaturgia para uma palhaça com o espetáculo da Margarita, recheada dessas experiências e inspirada em tantos palhaços.


GA: Sua palhaça, Margarita vai a luta em espetáculo solo pelas ruas, que passa desde briga em ringue, arrumar e limpar as ruas e até procurar marido. Qual dessas representaria a sua luta diária e as lutas de tantas Margaritas pelo Brasil a dentro?
Ana Luisa: A minha luta é fazer diversão com a nossa luta diária brasileira. Durante este processo de criação encontrei (depois de 18 anos) o bordão:" Tá tudo errado!" pois é desanimador algumas notícias e o que passa a fazer parte do cotidiano no Rio e no Brasil, gritar este bordão no espetáculo para mim, é um desabafo! Mas também solto outro bordão depois dos risos: Coisa Bôa! Se é para representar alguma coisa, que seja lutar pelo que "Tá Tudo Errado" pois no fim tem "Coisa Bôa"!


GA: Como você a questão do universo do palhaço e do circo no Brasil? Você tem ainda uma oficina que trabalha com erro até o limite. Como começou esse processo de criar um processo para ensinar outros a serem palhaços?
Ana Luisa: Amplo, geral e irrestrito (rs)! Muita coisa está se (re) construindo, mas tem muito para fazer quanto à organização e dignidade do artista circense.
A minha oficina consiste em passar o que me foi útil, no meu aprendizado com mestres e experiência, para a comunicação com o público. Eu exercito a disciplina com o grupo estabelecendo 3 regras básicas dentro de um jogo que possibilita perder o medo do erro e mostrar que a idiotice é comum a todos. É errando que o palhaço vai longe, mas tendo consciência do erro, não sendo palhaço por acaso. Fico feliz de lecionar (comicidade) na Universidade da Cidade (RJ).
O processo começou na 2ª pergunta desta entrevista: na minha experiência de aprendiz. Ensinando eu aprendo muito.


GA: Qual seria na sua opinião, o pior entrave na cultura no Brasil, seja no circo, no Teatro. E qual foi as maiores vitórias que o circo-teatro já ganhou nos últimos anos?
Ana Luisa: O maior entrave é a falta de educação. Sem o conhecimento da cultura ficamos sem o livre arbítrio, o entretenimento de massa escraviza, traz o individualismo e idiotiza (no mau sentido). A educação traz a participação do indivíduo na sociedade, a responsabilidade, a sua escolha e posicionamento no mundo e na vida, limita com sentidos e emoção. Esta falta de educação sinto maior nas grandes cidades. Quando estive com a minha Cia. (dos Melodramáticos ) no Circo Teatro Biriba estagiando, pude perceber a importância do Circo numa cidade, a sociedade comparecia quase todos os dias aos espetáculos (1 peça diferente cada noite), rir junto agrega, é social e político. Confirmei isso também na temporada do Vida de Artista (espetáculo dirigido pela Alice Viveiros que tive a honra de estar na equipe) do Circo Crescer e Viver na Pç. XI.

A maior vitória? É a nossa, desta turma enorme que mostra arte circense pelas ruas e lonas do Brasil. Os inúmeros grupos e trupes que surgiram e confirmam cada ano a sua arte, as famílias resistentes com suas lonas, os grandes encontros realizados por grupos por todo o Brasil como o Anjos do Picadeiro, por exemplo, na sua 12º edição e que cresce a cada ano com mais participantes; lançamentos de livros sobre esta nobre arte e a união da classe e o conhecimento através das redes.


GA: Para você, o que é ser artista no Brasil?
Ana Luisa: É ir à luta todos os dias e de bom humor! Fim! UFA!

HA! Quero fazer um convite: a comemoração dos 20 anos da Margarita que será nos dias 25 e 26 de julho na Lona de Circo do Crescer e Viver. Gostaria que o público e os meus amigos, palhaços e palhaças que me ajudaram nesta "construção" fossem Celebrar a vitória que é nossa! Gracias!



SERVIÇO: 20 anos da Palhaça Margarita
Quando: 25 e 26 de julho às 19h
Onde: Lona do Crescer e Viver (R. Benedito Hipólito s/n - Praça XI
Ingresso: R$5,00

Um comentário:

Anônimo disse...

...pessoa ANA LUISA abordada no caso uma ATRIZ?!
Podiam tratar de SENHORA ao menos. Caraco.