segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Dr. Boemia: Fios da História da Vida Boêmia...

FIOS DA HISTÓRIA da VIDA BOÊMIA...
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Luiz Manhães


Procurando outras pistas, descobri que Boêmia, região da atual República Tcheca, concentrava grande número de ciganos, admiradores da vida alegre, festeira e livre. No século XIX, na França da Belle Époque, passa-se a denominar "bohème" aos artistas, pintores, escritores e poetas que gostavam da vida noturna. E os primeiros trinta anos do século XX era o tempo dos boêmios, esses "seres deslocados", como define Dan Franck, vivendo a vida de artistas, sem ordem e sem regras. Tanto os pintores do Lapin Agile quanto os poetas do La Closerir des Lilas usavam, às vezes, roupas extravagantes, organizavam festas inusitadas, puxavam o revólver e provocavam o burguês de mil maneiras, por um motivo essencial: na época, o burguês não gostava deles. Jerrold Seigel, também se referindo à Paris Boêmia, lembra os cabelos longos, viver o momento, não ter residência fixa, liberdade sexual, entusiasmos políticos radicais, bebida, ingestão de drogas, padrões irregulares de trabalho, hábito de vida noturna como sinais externos da boemia.

O desenvolvimento do capitalismo abala as estruturas da boemia, exigindo dos intelectuais da "belle époque" o cumprimento de prazos e o ordenamento de horários e tarefas, enfim, cobrando-lhes a disciplina necessária na luta pela sobrevivência. Em Paris, como nos relata Pedro Paulo Filho em seu saboroso livro "Notáveis Bacharéis na Vida Boêmia", com a impulsão do modernismo na arte e na literatura, vai se modificando o perfil do boêmio, afastando-se das suas famosas bebedeiras para adotar o bate-papo, as conversas inteligentes, movidas com um ou outro trago, mas sem o "alcoolismo mórbido das gerações precedentes".

Em 1957, a palavra boemia se populariza, no Brasil, com a gravação de "A volta do boêmio", de Adelino Moreira, e interpretada por Nelson Gonçalves, que cantava colocando a sílaba tônica no i, fazendo um iiiii, para desespero dos professores de Português. Hoje, aceita-se as duas formas: boêmia e boemia... Vale a pena reproduzir a letra desta música porque nos indica algumas questões, como as razões de se estar boêmio, revelando, entre outras coisas e mais uma vez, a presença ou a ausência da mulher amada:

A Volta do Boêmio (Adelino Moreira)

Boemia, aqui me tens de regresso
E suplicante lhe peço
A minha nova inscrição
Voltei pra rever os amigos que um dia
Eu deixei a chorar de alegria,
Me acompanha o meu violão
Boemia, sabendo que andei distante
Sei que esta gente falante vai agora ironizar
Ele voltou, o boêmio voltou novamente
Partiu daqui tão contente,
Por que razão quer voltar?
Acontece que a mulher que floriu meu caminho
Com ternura, meiguice e carinho,
Sendo a vida do meu coração
Compreendeu e abraçou me dizendo a sorrir
Meu amor você pode partir,
Não esqueça o teu violão
Vá rever os teus rios, teus montes, cascatas
Vá cantar em novas serenatas
E abraçar teus amigos leais
Vá embora, pois me resta o consolo e alegria
Em saber que depois da boemia
É de mim que você gosta mais.

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Quem é Luiz Carlos Manhães?

Professor universitário da UFF, Luiz Carlos Manhães realiza um curso regular: "redes educativas na boemia musical". Sugerindo o nome da coluna como: "boemia musical" ou "Os Boêmios", em homenagem a Anacleto de Medeiros, autor da música gravada pelo Cordão do Boitatá. Entretanto, a coluna ficou como Dr. Boêmia em homenagem ao doutor especializado em boêmia. Viva!

2 comentários:

Unknown disse...

Querido Dr.Boemia,

A letra de Adelino Moreira foi muito bem escolhida para ilustrar seu texto. Apesar de suplicar nova inscrição, o boêmio já definiu suas prioridades, e sabemos perfeitamente o que representa o amor romântico no contexto capitalista. Portanto, que triste lugar o da mulher em A Volta do Boêmio! E que tremenda ilusão pretender conciliar boemia e rotina .... (aliás, este parece ser o mote de muitos sambas como Camisa Amarela, Com Açúcar e com Afeto , Diz que fui por aí e outras).
Um abraço e parabéns pela coluna,
Carmen

Tina Bruxinha disse...

Dr.encontrei esse lindo poema que fala da Boêmia de uma forma romântica,estou te oferecendo como recordação de uma linda madrugada boemia...

BOEMIA
De todas as belas artes,há uma que sempre quis...Se pintar a vida faz parte,que eu molde meu jeito de amar.Construa palavras de amor,que eu jogue castelos pro ar.Que eu seja mesmo feliz!Não conto os anos que vêm.Sei que agora sou alguém,sou um céu às vezes nublado,
Nem inocente, nem culpada,ré dos meus sentimentos.Compro sonhos, sonho momentos,vendo estrelas, bebo da lua,pinto sóis ao acaso e enamorados na rua.
Dou remate ao meu coração,compondo versos ao vento,sou do amor a fantasia,minha felicidade é boemia.
Letícia Thompson
*Espero que gostes...Tina