segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Entrevista com a titeriteira Márcia Fernandes

Nessa edição, conseguimos trazer uma bela entrevista com Márcia Fernandes, titeriteira, isto é profissional do teatro de bonecos, além de ser contadora de histórias e bacharel e licenciada em História. Márcia é uma mulher que se dedica não só ao ofício de dar vida aos bonecos, assim como construi-los e ensinar a quem se interessa pelo assunto. Com vocês: Márcia Fernandes!


Guerrilha Aberta: Como você se auto-definiria?
Márcia Fernandes: Iiiihhhiiii!!!!!!! Perguntinha dificil né? Ahahahahhh... Eu sempre acreditei que nós somos o que os outros vêem, não o que dizemos que somos. Mas vamos lá! Bom...Sou uma pessoa desencanada com a vida, gosto de gente e não como carne (morta) hehehehhh... Me esforço o máximo não entrar no estresse da vida, sei que as vezes não consigo, mas procuro respirar sempre quando algo tenta me tirar do sério. Hoje, em menos explosiva do que ontem, o que me dá uma melhor qualidade de vida.

Estudo muito para buscar um diferencial, gosto de ler, de brisa fresca, de compania boa, boa mesa, viajar, namorar, bonecar, contar causos dessa gente do povo - Ah por favor não confunda isso com fofoca. hehehe - etc. de coisas boas.


GA: A primeira vez que lhe conheci, você desenvolvia um trabalho de bonecos, com um cão de pelúcia, não é? Como é mesmo o nome dele? E Como começou essa história de teatro de bonecos na sua vida?
Márcia:
Ahahahahhhh**!!!!!!!!! Não é um cão de pelucia, é o TUNGA, o boneco mais bonito e charmoso das redondesas. Depois que comecei a desenvolver o minha palhaça, descobri que ele é o meu lado palhaço.
Pois então, sempre gostei de brincar, as vezes acho que a vida é uma grande brincadeira, e fico triste quando percebo que para muitos a brincadeira dá errado. Comecei a trabalhar com bonecos confeccionando personagens para show de transformistas. Depois passei a desenvolver personagens e adereços para espetáculos teatrais... E olha que já fiz bastante coisa, para o Rio e outros estados. Montei alguns espetáculos como: "Mingau de lobo! Deus me livre!" (texto meu), "O Campo de Santana do Império a República", "DUMONT. O Sonho de um Voador" e outros.

Participei de espetáculos de outras Cias, como atriz (que sou como profissão) e percebi que era hora de fazer uma faculdade e me formei em
História. O que me ajudou muito na escolha das minhas profissões. Isto por que eu sou de querer abraçar o mundo com as pernas e me meto em muita coisa. Hoje tenho mais definido que quero trabalhar com o teatro de bonecos e a contação de histórias, estou pretendendo inclusive entrar em um mestrado que me possibilite usar os dois generos de trabalho. Não sei se em Ciência e Arte ou Educação Ambiental, mas vamos ver.

Atualmente tem na Tv - Comercial do Multi Market - quatro bonecos que eu fiz (porco, vaca, galo e ovelha).


GA: Além do teatro de bonecos, você também desenvolve um trabalho de contação de histórias. Sempre vejo você dentro de seminários e festivais, relacionadas ao tema. Como você une os dois elementos para desenvolver um trabalho artístico? Márcia: O boneco entrou primeiro em minha vida. A contação de história veio com o ouvir o outro, seus causos, suas histórias e suas palavras, o que me levou a pesquisa dos contos. Depois na faculdade as pesquisas se intensificaram quando eu descobri que os ritos e costumes que praticamos até hoje sem saber o seu significado, vieram das tribos mais antigas, aquelas que deixavam de ser nomades para se tornarem sedentárias. Ixiii! Lá vai é tempo hein?! Logo percebi que para se organizarem em sociedade elas precisavam de um referencial, e este eram os mitos, as histórias que criavam como forma de alcançarem uma sociedade estruturada, com regras que servissem a todos.

E é por esse caminho, a busca da identidade, que procuro trabalhar. Quem sou eu e o que eu quero neste mundo. Sabemos por tanto que cada história tem a versão relativa ao ponto de vista da posição que está a vista de quem a vê, logo, não há história certa ou errada apenas uma história a mais. O teatro de bonecos tem muito disso, de tratar das relações humanas e seus entornos (sociedade, economia, politica...). Por ser um elemento questionador, principalmente no nordeste, não sei se em todo ele, mas em sua grande maioria mais para o interior, ele perpassa pelo outro, suas vivências e historicidades. Como em minhas oficinas de contar histórias trabalho mais com essa vivência, consigo unir os dois com muita facilidade. Mas não uso o boneco como o personagem de uma história, mas como um contador mesmo.


GA: Falando nisso, você está desenvolvendo oficinas relacionadas ao temas em alguns lugares não é? Conta mais um pouco sobre como é feito esses trabalhos e como as pessoas podem se inscrever? Márcia: As oficinas que desenvolvo, divide-se em dois módulos, primeiro trabalho o contador que existe dentro de cada um - ele com relação a ele mesmo, ao seu ouvinte, ao espaço que ele ocupa e desvenda neste universo simbólico, a história que escolhe para contar, etc - e no segundo módulo, o que chamo de musculação cerebral, trabalho os textos, as diferentes estruturas de cada categoria de história e como bem utiliza-la em seu favor para bem dizer o conto. O forte da minha divulgação é pela rede - internet -, e pelas filipetas distribuídas nas escolas para a equipe pedagógica. Portanto se alguém quiser fazer inscrição e não for cadastrado na minha lista de e-mails, envie um e-mail, para titeriteira@gmail.com, dizendo que quer pertencer a lista que logo será cadastrado e passará a receber a divulgação.


GA: Gostaria que você falasse como é fazer parte de um grupo de meninas que organizam um encontro mensal de palhaços, chamado "Produlhaças". Quais são as maiores dificuldades de organizar um encontro desse tipo e o que você considera como verdadeiro prêmio por desenvolver tal projeto?
Márcia: É quando a gente acha que já fez de quase tudo na vida e agora é só desenvolver o que aprendeu, é surpreendida com mais uma modalidade que invade sua história e se apossa de sua identidade bagunçando tudo. Esta sou eu, agora toda envolvida com a arte da palhaçaria, adorando esse movimento.

Para mim é muito legal desenvolver um evento com amigas e principalmente com pessoas que podemos confiar. Passamos por bons bocados que chamo de ex-periên-cia com este evento. É um evento totalmente democratico e gratuito. Não cobramos nada dos participantes e ainda passamos o chapéu para que eles não saiam de lá com as mãos vazias. Também não recebemos nada de ninguém, nada com relação a grana, monei, dinheiro. Aahahahhh, mas recebemos muito carinho e oportunidades de espaços que sempre abrimos a todos. Fazemos divulgação e convidamos o público... acreditamos que o palhaço precisa deste termometro - o público - para saber se seu trabalho está bom ou mais ou menos. E é isto que temos de fato e de verdade para oferecer.

As pessoas se inscrevem ou inscrevem seus números que deverão ter no máximo 10 min, com antecedencia, e participam do evento, que acontece sempre todo o segundo sábado do mês às 19h.

Ás vezes quem se inscreve acha por bem não aparecer e nem avisar,. Outros, ligam na hora para avisar que não dá para ir. O mais engraçado, aí eu acho hilário, é o cara que envia 3h antes do evento um e-mail para informar que não vai. Ahahahahhh... O que ele não se dá conta é que seu e-mail só vai ser lido talvez no dia seguinte. Bom aí é relaxar e gozar com quem apareceu. O legal é ver os que tiraram algum proveito da situação, e pode de alguma forma se sentir mais seguro com relação ao seu próprio trabalho. Os acidentes e o inesperado acontecem e acontecerão em todo o lugar, o que precisamos fazer é tentar melhorar e saber ter jogo de cintura e sabedoria para não transformá-los em um castigo. No mais, vamos que vamos por que a fila tá andando.


GA: O que é ser artista no Brasil?
Márcia:
Eu gosto! Gosto por que faço o que gosto. Gosto por que acredito na arte como uma energia transformadora, por que ela faz pensar, é a filosofia da contemporaneidade, por que é surpreendente, é aglutinadora, calorosa e acolhedora, é o instrumento de luta por uma vida melhor em todos os setores dessa estrutura social da qual fazemos parte. O Brasil! O que é o Brasil se não o nome de um terriotório que traz em seu colo gente de todas as categorias, raças, nacionalidades, personalidades... Como em qualquer outro país. Gente que ri e que chora, que briga e saúda, que trapasseia, cai e volta - não necessáriamente nesta ordem. Fazer arte no Brasil é lutar por dignidade, com a força de vontade e por um exercício de ser um cidadão ciente de seus deveres, direitos e responsabilidades.


SERVIÇO:
Curso: “Para se contar histórias...”

INICIO: dia 09 de AGOSTO (Sabado)
Quando: 09; 16; 23; 30/08 e 06/09 de 14h às 17h e 30 min.
Onde: SESC Tijuca (R. Barão de Mesquita; nº. 539, Tijuca)
Informações: Tel. 3238-2156 (SESC biblioteca) ou 9788-0307 (Marcia)
Capacidade Máxima: 25 participantes
Público-alvo: Interessados na arte de contar histórias.
Investimento: R$ 80,00 / comerciário: R$ 60,00 / rofessores, maiores de 60 anos e os inscritos antes da 1ª aula: R$ 70,00.

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