segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Entrevista com João Artigos, do Teatro de Anônimo

Após o espetáculo de circo, um menino se enfia no camarim e se encontra com um velho palhaço de circo, que já careca de saber como fazer o público rir, olha para o menino e pergunta: "O que quer?" e o menino responde rapidamente: "Uma entrevista!". O palhaço surpreso, tenta fazer alguma piada, mas antes mesmo de começar, o menino , senta-se ao lado do palhaço e continua a falar ansioso: "É que estou fazendo uma revista na internet sobre palhaços e comédia...". E o palhaço já achando demais, corta o menino e pergunta: "Você veio aqui fazer a entrevista, ou ser entrevistado?".

João Carlos Artigos, é um menino e um velho palhaço ao mesmo tempo. Uma pessoa que quando se encontra e assiste seus números, fica pensando se tudo o que você fez, foi de verdade mesmo? Nascido no subúrbio carioca, estudou no colégio Visconde de Cairu, no Meíer e lá, encontrou seus pares e fundou junto com amigos, um grupo de circo-teatro que hoje é ícone do circo-teatro no Brasil e no mundo: Teatro de Anônimo. Responsáveis por um dos mais importantes encontros de palhaço do mundo, o Anjos do Picadeiro, que esse ano de 2008, realiza sua sétima edição, no Rio de Janeiro.
Com vocês: João Artigos!


Guerrilha Aberta: O que representa o Grupo Teatro de Anônimo, na sua vida? Poderia dizer um pouco sobre os atuais membros do Grupo?
João Artigos:
O Anônimo é uma parte muito significativa da minha vida. É a escola, a familia, o trabalho e o canal que ajudei criar pra promover minha comunicação com o mundo. Depois de quase 22 anos, muitas etapas passamos juntos e aprendemos e amadurecemos juntos do núcleo que somos hoje eu, Angélica, Regina estamos desde a fundação, a Flávia e Shirley que já estão há tanto tempo que nem sei mais dizer quando entraram e o nosso novato é o Fabinho (Fábio Freitas), que está com a gente há 2 anos mas também, co-incidência já é da família domina os códigos que nos une já muito tempo. Inclusive estudou no Cairu (escola onde o Anônimo se formou em 1986). Como num casamento seguimos no exercício de renovar nossa relação, paixão e motivação a cada dia.


GA: O Teatro de Anônimo realizou, durante o mês de junho, uma série de apresentações em Festivais na Europa. Como é essa experiência para vocês e o que vocês poderiam contar sobre esses festivais e o trabalho de outros artistas pelo mundo?
João: A resposta já vem dentro do avião de volta (1 de Julho) e a experiência é muito boa, porém sem glamour. Saímos do Brasil para encontrar um novo público, porém, são também trabalhares, jovens estudantes, crianças, etc, como fazemos desde sempre no Brasil. Claro que tem a questão cultural, vamos encontrar um público educado para ver espetáculos na rua com o mesmo respeito e entusiasmo como se fosse pagar pra ver um espetáculo no teatro. Nessa turnê tivemos uma experiência particular em uma das cidades que estivemos na Noruega (Fredrikstard), poque aí encontramos um tipo de público extremamente frio e pouco receptivo para o estabelecimento de uma comunicação com o evento teatral. Aí fizemos um espetáculo em um balneário para 3 pessoas praticamente. Isso não se deu porque nós somos ruins e eles não gostaram do espetáculo, pois, as pessoas sequer paravam pra ver - total indiferença;

Já no outro festival em Porsgrunn, que tem 17 anos de existência, o público estava presente. A nossa relação com o público na Espanha é uma relação de total cumplicidade, na Bienal Internacional de Teatro de Ator, em Cuenca, o Roda Saia foi aplaudido de pé por dez minutos pelo público. E o mais incrível foi apresentar na hora da final da Eurocopa - Espanha e Alemanha - e ter público, uma roda de umas 300 pessoas atentas ao jogo dos palhaços. Não fomos só nós, no período do jogo , vários espetáculo aconteceram cheios de gente. No Plaza Mayor menos de 300 metros milhares de espanhóis acompanhavam a partida pelos telão colocado pela organização do festejos de Burgos.

Por último nunca é demais ressaltar que a palhaçaria brasileira está em um nível que pode falar de igual com qualquer escola de palhaçaria do mundo.


GA: Vocês realizaram durante o mês de maio, um "grande aulão", onde todos os membros do grupo irão realizar um trabalho em conjunto com as pessoas que participaram da oficina, onde até surgiu uma incubadora, não é? Qual será o resultado final desse trabalho, ainda poderemos ver esse ano?
João:
Na verdade o oficinão é parte da Incubadora de Gêneros Populares e a idéia desse projeto é estabelecer um espaço permanente estudo, criação, apresentação e renovação dos nossos quadros. Esse núcleo tendo como base a experiência dos espetáculos Tem Fuzuê, Tomara que não Chova e Almas Berrantes, mais a Noite Saci. Vai criar uma noite onde teremos teatro, circo, música, dança, comida e bebida. Está noite, que poderíamos chamar de cabaré, varietè tem a pretensão de se firma como uma noite permanente do Espaço Teatro de Anônimo. A previsão é de setembro já termos um resultado.


GA: O Teatro de Anônimo, junto com a CASA - Cooperativa dos Artistas Autônomos e o SEBRAE realizaram esse ano, o lançamento de um catálogo do Pólo Gastronômico da Praça XV. Como vocês se sentem, realizando um sonho e vontade antiga de revitalizar aquele espaço cultural, que já muito agitado no passado. Qual vai ser a periodicidade desses eventos?
João: Esse projeto do Pólo Gastronômico não é nosso nem da Cooperativa é dos comerciante locais. Ainda nos sentimos a cereja no bolo. Não tem estrutura para que o nosso trabalho seja pago. É um Mercado Cultural, mas a única coisa que não se paga é arte, a cerveja, os bolinho de bacalhau sim. Estamos descobrindo ainda como nos localizar naquele terreno agora tão cobiçado por muitos.


GA: Em que pé, anda o Anjos do Picadeiro 7, esse ano? Poderia nos adiantar alguma coisa, de onde vai ser e quais as figuras que já estão programadas para vir? E os interessados em participar, quando e para onde podem enviar o material?
João: O anjos esse ano será no Rio, será menor que as últimas edições, vamos radicalizar na possibilidade das trocas artísticas e vamos começar na ultima semana de novembro (24 a 28) com as oficinas. Montaremos duas galas montadas especialmente para o encontro. Os espetáculos começam dia 3 vamos até o dia 7 de dezembro. Como sempre estamos buscando criar espaços para os mais distintos trabalhos e podem mandar sim material. O caderno resultado do encontro passa está no forno e vai sair durante o encontro. Assim que tiver mais novidades fazemos uma entrevista só do Anjos, mas o que posso adiantar que já confirmamos a presença de Avner, The Excentric (direto de Nova York), Pacopacomo (da Espanha) e Jango Edwards, palhaço norte-americano.


GA: Com certeza! Você me contou outro dia, que está escrevendo um livro sobre Teatro de Anônimo, como está sendo esse processo?
João:
É sempre muito bom refletir sobre o fazer e ainda mais qquando essa reflexão é acompanhada por tão ilustres parceiros. O Livro do Anônimo que deverá sair um agosto/setembro é a reflexão sobre os elementos técnicos que constituem a trajetória Anônima.


GA: Finalizando, para você, como ganhador do nariz de prata e ganhador do especial do prêmio Circo de Soleil. O que é ser artista, hoje, nesse mundo?
João:
É ter que acordar todo dia, tomar café e sair pra construir meus sonhos. poder ter uma janela de interferência no mundo onde o trabalho, estudo, diversão estão intimante ligados.

* Todas as fotos, com excessão da terceira foto, são de autoria de Celso Pereira

2 comentários:

Ruth Mezeck disse...

Parabens VINICIUS. óTIMA ENTREVISTA! MERCI DA MINHA PARTE.
LEITURA OBRIGATORIA ESPECIALMENTE PARA PALHAÇOS E ASPIRANTES A TAL
BIJOS.

Vinnyl 69 Produções disse...

Opa Ruth!
Obrigado pelo carinho!
:)