terça-feira, 21 de outubro de 2008

Entrevista com banda Dr. Raiz

Nessa edição do Guerrilha Aberta, trouxemos uma entrevista com uma banda direto de Carirí - Ceará, que começa quando seis amigos (Dudé Casado, Raul Xenofonte, Ramon Saraiva, Evaldo Casado e Linderberg Monteiro) eram amigos do colégio e tinham uma idéia de montar uma banda que representasse um som alternativo, fazendo covers de bandas como Chico Science, Raimundos, Cazuza e Titãs. Isso era apenas em 1998. Agora, a banda com mais experiência, composições próprias e um disco lançado, misturando músicas nordestinas com rock n´Roll.
Com vocês, a Banda Dr. Raiz!


Guerilha Aberta: Vocês são do Cariri, Ceará. Por ai, há uma produção intensa de cultura. Como a própria região absorve essa rica produção cultural?
Dr. Raiz: Realmente aqui se tem uma enorme vivência cultural, mas fica somente nisso. São poucos que dão uma devida atenção aos grupos de cultura popular, falamos em entidade e empresas, haja a vista a diversidade que temos por aqui, desde grupos de reisados à bandas cabaçais, passando por grupos musicais e até de teatro.
O evento que nos vem a lembrança no tocante à cultura popular, realizar-se no mês de novembro denominado "Mostra Sesc de arte e cultura", evento este como se percebe é realizaddo pelo Sesc-CE.


GA: O som de vocês mistura regionalismo como dos reisados, das bandas cabaçais, do forró pé-de-serra, o maracatu, o coco, a embolada, a cantoria com rock n´roll. Como começou essa mistura e vocês teriam algum artista que inspirou e/ou ainda inspira essa idéia?
Dr. Raiz: Sim, logo no começo da banda o que nos inspirou foi o Movimento Mangue-Beat de Recife-PE. Grupos como o Mestre Ambrósio e Chico Science e Nação Zumbi faziam nossa cabeça, mas vimos pouco depois que esse movimento exercitava a diversidade e a partir daí começamos a procurar nossa própria identidade através do que temos por cá, como por exemplo os grupos de reisado, cabaçal, cantoria, benditos etc.


GA: Em suas apresentações, vocês realizam performances de teatro e dança, com figurinos característicos. Qual o objetivo dessa teatralidade musical, que está se tornando cada vez uma marca entre os grupos do nordeste do Brasil?
Dr. Raiz: Isso foi uma característica marcante do grupo e que ficou no nosso primeiro trabalho. Hoje temos novas idéias, uma outra perspectiva.
Essa teatralidade em que se ver nas bandas nordestinas é devido aos grupos de cultura popular nordestinos, fonte de inspiração direta destas. Quando você assisti a uma apresentação de um grupo de reisado, você nota que aquilo não passa de um teatro, onde seus componentes interpretam vários tipos de personagens.
Quando partimos pras bandas cabaçais vemos vários passos de danças característicos desses grupos. Isso, entre outras, se olharmos aqui pro Cariri-CE, olhando para o restante do Nordeste temos muito mais, como por exemplo, o Cavalo Marinho, Maracatu rural etc (em Pernambuco), o Reisado de Alagoas com mais de 100 personagens numa apresentação por noite, o Maracatu cearense em Fortaleza etc.


GA: Qual a principal dificuldade de ser músico brasileiro? E qual o principal prazer, digo, o que move vocês a continuar com toda força com o oficio de ser artista musical, no Brasil?
Dr. Raiz: Sem dúvida a falta de apoio é a maior delas, seja ela na iniciativa privada ou pública, bem como por parte da imprensa onde dificilmente se abre espaço para artistas e bandas alternativos. Falta muito mais apoio por parte de todos.
Achamos que essa coisa de ser artista está dentro de você mesmo, vem do berço, uma vocação. Para poder lutar contra essa falta de apoio e o grande preconceito que gira em torno do artista, de um modo geral, é realmente pra quem gosta.


GA: Finalizando, para vocês, o que é ser artista no Brasil?
Dr. Raiz:
É isso tudo que falamos, uma mistura de satisfação em está fazendo o que sabe e gosta, de ser admirado, de ser criticado e até marginalizado. Como diz Lenine em uma de suas músicas: "É coisa de poeta (artista de modo geral) navegar na contra-mão".

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