sexta-feira, 4 de abril de 2008

Entrevista com o Grupo Sátira In Concert

Por fim, como disse na edição anterior, que seria algo expecional sempre ter três entrevistas por edição. Estou tentando manter esse padrão de qualidade, até porquê bons artistas são o que não falta nessa capital cultural do Rio de Janeiro. Essa terceira entrevista é com Her Agaptio, "moreno alto, de 1,97m de pura sedução e falta de noção", como ele próprio se auto-define. Her é produtor, músico e humorista, junto com Sérgio Stern, Marcio Sanchez e Andrea Spada formam o grupo Sátira In Concert:

Guerrilha Aberta: Desde quando e como se formou o Grupo Sátira In Concert e quais os trabalhos já realizados pelo grupo?
Her: O Sátira in Concert se formou a partir de 2003. Logo depois que mudei para o Rio. Já havia feito um trabalho de humor com Sergio Stern e Luciano Correa (que infelizmente não mais se encontra entre nós) chamado Orquestra.Zip. Então ao reunir a velha turma na mesma cidade tivemos idéia de fazer um novo grupo de humor. Convidamos o Marcio Sanches, que na época morava em São Paulo, mas que se amarrou tanto no trabalho, que acabou mudando para o Rio. A partir de então começamos a escrever o espetáculo, que levou uns 9 meses e fomos nos apresentando assim sem pressa. Comendo pelas beiradas, enquanto conciliamos nossos shows a nossos empregos.


GA: Quais as possibilidade de som para se fazer um violino? Como foi o processo de criação do número de Renan Calheiros, por exemplo?
Her: O violino, ao contrário do que possa parecer é um instrumento muito eclético que você não encontra apenas em orquestra fazendo música clássica. Existe violino em praticamente todas as músicas folclóricas pelo mundo. Celta, cigana, judaica, tango, country, mariachi e por aí afora. Eu sempre curti música folk e busquei aprender vários estilos musicais para se tocar no violino. Para você ter idéia, eu toco junto com o Marcio há uns 15 anos, neste intervalo, nós já tivemos grupos de música clássica, 2 mariachis (música mexicana), um grupo de músicas folclóricas (cigana, tango,...), ou seja a gente se amarra tocar o que o povo gosta. Costumamos dizer que temos PhD em Violino de Boteco!





O nosso processo de criação é muito doido. A gente se reúne e começa a falar (e tocar), merda. Aí a gente filtra e fica só com “la creme de la creme de la mérde”. Da quantidade sai a qualidade, somente bobagens fresquinhas são aproveitadas.


GA: Como surgiu a possibilidade de unir humor com música?
Her: A gente toca em orquestra há mais de 20 anos, não que sejamos velhos, mas começamos cedo. Com exceção do Sérgio, que é ator, mas cantou em coro durante muitos anos. Esses ambientes com muita gente descontraída, tende ao humor. É quase como uma sala de aula, a turminha do fundo fica fazendo gracinha para compensar a tensão da concentração. Pois nós éramos da turminha do fundo.


GA: Quais os seus idolos no mundo da música e do humor? O número da quinta sinfonia foi alguma espécie de homenagem a Beethoven?
Her:
Na música tenho muitos ídolos! Principalmente os atemporais. Na musica clássica, aqueles que o tempo não consegue apagar suas obras como Bach e Beethoven. Também aqueles que gênios revolucionários modernos que lançaram uma estética que vai ser seguida por muitas décadas como Puccini, Prokofiev e Villa Lobos. Talvez você nunca tenha ouvido Puccini e Prokofiev, mas a escola de composição, que faz trilha de cinema da maioria dos filmes que você assiste é baseada nestes dois caras. E o Villa Lobos é a fonte tanto para a música clássica brasileira como para a popular como Tom Jobim, Chico, Edu Lobo...




Na música Pop, eu gosto muito de Lulu Santos, Nando Reis e Cidade Negra, que também são músicos que não se deixam ficar demodés. Eu tenho a impressão que daqui a 30 anos os velhinhos vão continuar fazendo um som atual, antenado nas melhores estéticas modernas e vendendo muito disco pros nossos filhos e netos.





Quanto a Beethoven, é um dos maiores gênios que a humanidade já produziu. As pessoas merecem conhecê-lo. Imagina você morrer sem ter a oportunidade de ver o mar, ou comer um morango, ou ver um quadro do Klimt. É como ouvir Beethoven. Vale a pena conhecer, nem que seja através das nossas sátiras. A gente fantasia, sacaneia até, e muita gente vai para casa curiosa em saber o quanto a gente mentiu e quanto falou a verdade. E vai pra internet pesquisar e descobre um tesouro enterrado no seu quintal. Eu acho que o Beethoven não deve ligar para as nossas sacanagens, deve estar se divertindo lá onde estiver. Afinal na sua última sinfonia composta ele fez uma declaração de que a alegria é a grande redentora da humanidade.



GA: Para vocês, do Sátira In Concert, o que é ser artista no Brasil?
Her: É maravilhoso trabalhar com o que gosta e morar onde você gosta. Se eu tivesse a opção de escolher moraria no Brasil e seria artista. Talvez vocês não saibam, mas o mundo morre de inveja da gente. Queriam morar aqui, ainda mais no Rio. Queriam viver tocando violão, ou recitando poesia, ou fazendo qualquer arte. A música brasileira lá fora é tão respeitada e consumida quanto o futebol. O dia que nós conseguirmos ter uma industria de entretenimento tão forte como a americana. Nós vamos ver muita gente ficando rica com música e arte. Ser artista no Brasil é ter a vida que todo mundo pediu a Deus. Agora, capitalizar sua arte e ganhar dinheiro é outra história. Há que se aprender a administrar sua carreira e obra. E temos que parar com o complexo de terceiro mundo, esse que acha que só é feliz quem fala com a língua enrolada.

2 comentários:

Anônimo disse...

Maravilha de entrevista, tudo a ver, principalmente quando Her fala do conceito de arte e sobre a valorização do artista brasileiro. Parabéns pela excelente exposição e clareza!

Anônimo disse...

"Creme de la creme de la merde" Não tem como não visualisar...Ótima entrevista !