Por fim, como disse na edição anterior, que seria algo expecional sempre ter três entrevistas por edição. Estou tentando manter esse padrão de qualidade, até porquê bons artistas são o que não falta nessa capital cultural do Rio de Janeiro. Essa terceira entrevista é com Her Agaptio, "moreno alto, de 1,97m de pura sedução e falta de noção", como ele próprio se auto-define. Her é produtor, músico e humorista, junto com Sérgio Stern, Marcio Sanchez e Andrea Spada formam o grupo Sátira In Concert:
Guerrilha Aberta: Desde quando e como se formou o Grupo Sátira In Concert e quais os trabalhos já realizados pelo grupo?
Her: O Sátira in Concert se formou a partir de 2003. Logo depois que mudei para o Rio. Já havia feito um trabalho de humor com Sergio Stern e Luciano Correa (que infelizmente não mais se encontra entre nós) chamado Orquestra.Zip. Então ao reunir a velha turma na mesma cidade tivemos idéia de fazer um novo grupo de humor. Convidamos o Marcio Sanches, que na época morava em São Paulo, mas que se amarrou tanto no trabalho, que acabou mudando para o Rio. A partir de então começamos a escrever o espetáculo, que levou uns 9 meses e fomos nos apresentando assim sem pressa. Comendo pelas beiradas, enquanto conciliamos nossos shows a nossos empregos.
GA: Quais as possibilidade de som para se fazer um violino? Como foi o processo de criação do número de Renan Calheiros, por exemplo?
Her: O violino, ao contrário do que possa parecer é um instrumento muito eclético que você não encontra apenas em orquestra fazendo música clássica. Existe violino em praticamente todas as músicas folclóricas pelo mundo. Celta, cigana, judaica, tango, country, mariachi e por aí afora. Eu sempre curti música folk e busquei aprender vários estilos musicais para se tocar no violino. Para você ter idéia, eu toco junto com o Marcio há uns 15 anos, neste intervalo, nós já tivemos grupos de música clássica, 2 mariachis (música mexicana), um grupo de músicas folclóricas (cigana, tango,...), ou seja a gente se amarra tocar o que o povo gosta. Costumamos dizer que temos PhD em Violino de Boteco!
O nosso processo de criação é muito doido. A gente se reúne e começa a falar (e tocar), merda. Aí a gente filtra e fica só com “la creme de la creme de la mérde”. Da quantidade sai a qualidade, somente bobagens fresquinhas são aproveitadas.
GA: Como surgiu a possibilidade de unir humor com música?
Her: A gente toca em orquestra há mais de 20 anos, não que sejamos velhos, mas começamos cedo. Com exceção do Sérgio, que é ator, mas cantou em coro durante muitos anos. Esses ambientes com muita gente descontraída, tende ao humor. É quase como uma sala de aula, a turminha do fundo fica fazendo gracinha para compensar a tensão da concentração. Pois nós éramos da turminha do fundo.
GA: Quais os seus idolos no mundo da música e do humor? O número da quinta sinfonia foi alguma espécie de homenagem a Beethoven?
Her: Na música tenho muitos ídolos! Principalmente os atemporais. Na musica clássica, aqueles que o tempo não consegue apagar suas obras como Bach e Beethoven. Também aqueles que gênios revolucionários modernos que lançaram uma estética que vai ser seguida por muitas décadas como Puccini, Prokofiev e Villa Lobos. Talvez você nunca tenha ouvido Puccini e Prokofiev, mas a escola de composição, que faz trilha de cinema da maioria dos filmes que você assiste é baseada nestes dois caras. E o Villa Lobos é a fonte tanto para a música clássica brasileira como para a popular como Tom Jobim, Chico, Edu Lobo...
Na música Pop, eu gosto muito de Lulu Santos, Nando Reis e Cidade Negra, que também são músicos que não se deixam ficar demodés. Eu tenho a impressão que daqui a 30 anos os velhinhos vão continuar fazendo um som atual, antenado nas melhores estéticas modernas e vendendo muito disco pros nossos filhos e netos.
Quanto a Beethoven, é um dos maiores gênios que a humanidade já produziu. As pessoas merecem conhecê-lo. Imagina você morrer sem ter a oportunidade de ver o mar, ou comer um morango, ou ver um quadro do Klimt. É como ouvir Beethoven. Vale a pena conhecer, nem que seja através das nossas sátiras. A gente fantasia, sacaneia até, e muita gente vai para casa curiosa em saber o quanto a gente mentiu e quanto falou a verdade. E vai pra internet pesquisar e descobre um tesouro enterrado no seu quintal. Eu acho que o Beethoven não deve ligar para as nossas sacanagens, deve estar se divertindo lá onde estiver. Afinal na sua última sinfonia composta ele fez uma declaração de que a alegria é a grande redentora da humanidade.
GA: Para vocês, do Sátira In Concert, o que é ser artista no Brasil?
Her: É maravilhoso trabalhar com o que gosta e morar onde você gosta. Se eu tivesse a opção de escolher moraria no Brasil e seria artista. Talvez vocês não saibam, mas o mundo morre de inveja da gente. Queriam morar aqui, ainda mais no Rio. Queriam viver tocando violão, ou recitando poesia, ou fazendo qualquer arte. A música brasileira lá fora é tão respeitada e consumida quanto o futebol. O dia que nós conseguirmos ter uma industria de entretenimento tão forte como a americana. Nós vamos ver muita gente ficando rica com música e arte. Ser artista no Brasil é ter a vida que todo mundo pediu a Deus. Agora, capitalizar sua arte e ganhar dinheiro é outra história. Há que se aprender a administrar sua carreira e obra. E temos que parar com o complexo de terceiro mundo, esse que acha que só é feliz quem fala com a língua enrolada.
GA: Quais as possibilidade de som para se fazer um violino? Como foi o processo de criação do número de Renan Calheiros, por exemplo?
Her: O violino, ao contrário do que possa parecer é um instrumento muito eclético que você não encontra apenas em orquestra fazendo música clássica. Existe violino em praticamente todas as músicas folclóricas pelo mundo. Celta, cigana, judaica, tango, country, mariachi e por aí afora. Eu sempre curti música folk e busquei aprender vários estilos musicais para se tocar no violino. Para você ter idéia, eu toco junto com o Marcio há uns 15 anos, neste intervalo, nós já tivemos grupos de música clássica, 2 mariachis (música mexicana), um grupo de músicas folclóricas (cigana, tango,...), ou seja a gente se amarra tocar o que o povo gosta. Costumamos dizer que temos PhD em Violino de Boteco!
O nosso processo de criação é muito doido. A gente se reúne e começa a falar (e tocar), merda. Aí a gente filtra e fica só com “la creme de la creme de la mérde”. Da quantidade sai a qualidade, somente bobagens fresquinhas são aproveitadas.
GA: Como surgiu a possibilidade de unir humor com música?
Her: A gente toca em orquestra há mais de 20 anos, não que sejamos velhos, mas começamos cedo. Com exceção do Sérgio, que é ator, mas cantou em coro durante muitos anos. Esses ambientes com muita gente descontraída, tende ao humor. É quase como uma sala de aula, a turminha do fundo fica fazendo gracinha para compensar a tensão da concentração. Pois nós éramos da turminha do fundo.
GA: Quais os seus idolos no mundo da música e do humor? O número da quinta sinfonia foi alguma espécie de homenagem a Beethoven?
Her: Na música tenho muitos ídolos! Principalmente os atemporais. Na musica clássica, aqueles que o tempo não consegue apagar suas obras como Bach e Beethoven. Também aqueles que gênios revolucionários modernos que lançaram uma estética que vai ser seguida por muitas décadas como Puccini, Prokofiev e Villa Lobos. Talvez você nunca tenha ouvido Puccini e Prokofiev, mas a escola de composição, que faz trilha de cinema da maioria dos filmes que você assiste é baseada nestes dois caras. E o Villa Lobos é a fonte tanto para a música clássica brasileira como para a popular como Tom Jobim, Chico, Edu Lobo...
Na música Pop, eu gosto muito de Lulu Santos, Nando Reis e Cidade Negra, que também são músicos que não se deixam ficar demodés. Eu tenho a impressão que daqui a 30 anos os velhinhos vão continuar fazendo um som atual, antenado nas melhores estéticas modernas e vendendo muito disco pros nossos filhos e netos.
Quanto a Beethoven, é um dos maiores gênios que a humanidade já produziu. As pessoas merecem conhecê-lo. Imagina você morrer sem ter a oportunidade de ver o mar, ou comer um morango, ou ver um quadro do Klimt. É como ouvir Beethoven. Vale a pena conhecer, nem que seja através das nossas sátiras. A gente fantasia, sacaneia até, e muita gente vai para casa curiosa em saber o quanto a gente mentiu e quanto falou a verdade. E vai pra internet pesquisar e descobre um tesouro enterrado no seu quintal. Eu acho que o Beethoven não deve ligar para as nossas sacanagens, deve estar se divertindo lá onde estiver. Afinal na sua última sinfonia composta ele fez uma declaração de que a alegria é a grande redentora da humanidade.
GA: Para vocês, do Sátira In Concert, o que é ser artista no Brasil?
Her: É maravilhoso trabalhar com o que gosta e morar onde você gosta. Se eu tivesse a opção de escolher moraria no Brasil e seria artista. Talvez vocês não saibam, mas o mundo morre de inveja da gente. Queriam morar aqui, ainda mais no Rio. Queriam viver tocando violão, ou recitando poesia, ou fazendo qualquer arte. A música brasileira lá fora é tão respeitada e consumida quanto o futebol. O dia que nós conseguirmos ter uma industria de entretenimento tão forte como a americana. Nós vamos ver muita gente ficando rica com música e arte. Ser artista no Brasil é ter a vida que todo mundo pediu a Deus. Agora, capitalizar sua arte e ganhar dinheiro é outra história. Há que se aprender a administrar sua carreira e obra. E temos que parar com o complexo de terceiro mundo, esse que acha que só é feliz quem fala com a língua enrolada.
2 comentários:
Maravilha de entrevista, tudo a ver, principalmente quando Her fala do conceito de arte e sobre a valorização do artista brasileiro. Parabéns pela excelente exposição e clareza!
"Creme de la creme de la merde" Não tem como não visualisar...Ótima entrevista !
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