sexta-feira, 2 de maio de 2008

Entrevista com Família Clou

Abrindo a primeira entrevista dessa sexta edição, entrevistamos uma família de palhaços - Família Clou - Isso mesmo, composta pelos palhaços Frango (Dalmo Latini - O pai) e Nina (Talita Melone - A mãe) e Pingulinho (Ian - O filho) e Cenourinha (Isabela - A filha). A família Clou começou suas atividades cerca de seis anos atrás e desde então busca uma forma de expressar através da arte do palhaço: a simplicidade, tradição e a possibilidade de cada um ser o que é em cena.


Guerrilha Aberta: Quando tudo começou?
Família CLOU: Nosso primeiro contato com essa arte se deu através do encontro com Marcelle Nader (Atriz, palhaça e bonequeira), referência no trabalho de Clown em Friburgo, com quem na época fizemos nossa primeira oficina. Sempre fomos pessoas da pesquisa, da busca e trouxemos para a nossa cidade a oficina do Luiz Carlos Vasconcellos, o Xuxu, (oficina que fez “pipocar” o movimento de Palhaços por aqui) e passamos a travar contato de fato com as delicias e desafios de ser palhaço. Daí "viciamos” no negócio e começamos a perseguir literalmente os palhaços do Brasil e do mundo.
Em seguida conhecemos o Teatro de Anônimo, grupo que começou a nos inspirar pelo estilo e prática do trabalho. Fizemos a oficina A Nobre Arte do Palhaço, com Márcio Libar e passamos à estar em várias apresentações de palhaços no Rio, no Anjos do Picadeiro e por ai vai. Sempre que encontrávamos com Márcio ele dizia “ai vem a Familia Clou” e o nome acabou pegando. Daí desde um encontro inesperado com Tortell Poltrona e um número de presente, Chacovachi, As Marias da Graça, Circo Dux, Teatro de Anonimo, Aziz Gual, amigos que passaram pelas nossas vidas e foram enriquecendo as nossas malas!
Agora tudo isso só ganhou forma quando escolhemos para ser nosso companheiro de estrada, um figura aqui da cidade: Carlito Marchon (ator, diretor e palhaço). Ele foi o cara que fez a gente ir para cena com a cara e a coragem de fazer tudo que desse na idéia. Lembramos da estréia com ele, onde tiramos par ou ímpar pra ver quem (se) jogava na roda primeiro, senão era empurrado mesmo. Ele também vidrou na história de ser palhaço depois de anos de teatro e descobriu-se bufão no Anjos 5, numa oficina com a Daniela Carmona, antes de partir pro céu e ser Anjo de fato! Lembramos de uma das muitas vezes que perdemos em cena, da nossa cara de tristeza, da decepção diante da vontade de acertar e Carlito sempre botando pra cima, nos incentivando, dizendo: “essa é só mais uma...faremos muitas!!!!”.


GA: Vocês como uma família que se dedica inteira a palhaçaria. Como vocês vêem a tradição circence, onde o conhecimento é passado entre gerações. E como e onde vocês aprenderam a arte da palhaçaria?
CLOU: Admiramos e respeitamos muito a tradição, a transmissão do conhecimento, o amor pelo circo, mas também ficamos muito felizes em ver a cada dia pessoas que como nós não são de famílias tradicionais,mas e também amam essa arte, montando suas trupes e se apresentando com trabalhos de qualidade. Inauguramos nossa própria tradição e hoje, nossos filhos são a segunda geração. Nossa admiração pelos palhaços fez nascer uma exposição de pinturas que nos acompanha nas nossas apresentações, fazendo com que o respeitável público conheça histórias belíssimas de palhaços importantes do Brasil e do mundo e comecem a valorizar essa arte. Crianças de hoje que muitas vezes não conhecem esses artistas, ouvem com atenção e curiosidade cada biografia e se apaixonam e saem falando: “eu sou o Dimitri, eu sou o Piolin,eu sou o GrocK....


GA: voces são pessoas que já aprenderam a arte da palhaçaria, com muitos mestres. O último foi o palhaço mexicano Aziz Gual, no Anjos do Picadeiro 6, correto? Como foi essa experiência? E como os aprendizados são aplicados no trabalho de vocês?
CLOU:
O encontro com Aziz foi muito marcante para nós e para nossos filhos. Pessoa de extrema simplicidade e sensibilidade. Sua profundidade técnica nos fez ver o quanto truques simples podem possibilitar uma boa cena. Assim como músicos de um grupo acabam sendo influenciados pelas bandas que gostam e ouvem, percebemos que todos esses artistas que fazem parte da nossa vida nos influenciam bastante. Os aprendizados transmitidos por eles, direta ou indiretamente, viram matéria prima para muito trabalho, experimentações, criação de cenas, que ao longo do tempo adquirem uma identidade própria.


GA: Agora, perguntando sobre família. Como é manter uma família de palhaços, com treinos, ensaios e dividir outras funções como cuidar do lar, estudos. É muito dificil?
CLOU: Familia Clou somos nós, sem tirar nem pôr. É interessante por sermos de uma cidade pequena sempre chamamos atenção ao andar na rua com nossos filhos, as pessoas comentam: “ Olha lá a familia dos Palhaços!”. Nossos filhos tem o maior orgulho e agora tem se apresentado com a gente. São super profissionais, treinam os malabares com o maior afinco. No último Anjos do Picadeiro, eles “mamaram” as apresentações com tanta vontade quanto nós. E mais, são sem dúvida, os melhores diretores que já tivemos!!


GA: O que a família Clou anda fazendo? Vocês vão fazer alguns espetáculos na Rodoviária, esse mês, não é? Como as pessoas podem saber mais sobre essa autêntica família de palhaços?
CLOU: Temos trabalhado bastante aqui na cidade, conquistamos nossos espaços. Recentemente ficamos em cartaz durante 2 meses no teatro daqui. Foi um experiência única pra nós. Pessoas voltando duas, três vezes pra ver o trabalho. Muito gratificante! Participamos de todas as edições do festival de Inverno na Serra e agora iremos participar mais uma vez de um projeto que leva apresentações artistícas à Rodoviária integração no horário de maior pico. Levaremos “O menor Circo do Mundo” para lá. Trabalho que já tem 4 anos de estrada. É bom perceber o quanto as cenas tem melhorado e o quanto ainda precisamos melhorar, mas como dizem os mestres: "Os melhores palhaços são os mais velhos". Então vamos vivendo e aprendendo!
As pessoas podem acompanhar um pouco do que fazemos no nosso blog: www.trupefamiliaclou.blogspot.com


GA: Encerrando, na opnião de vocês, o que é ser artista no Brasil ?
CLOU: O artista é um trabalhador como qualquer outro, mas ainda não é visto e nem se vê dessa maneira. O diferencial é a possibilidade de intervir na vida das pessoas fazendo-as se emocionar, rir por 1 minuto, segundos. Ver uma roda cheia de gente de idade criança, adulto todo mundo se abrindo para você é muito bom.

2 comentários:

Trupe Família Clou disse...

Valeu Vinicius ficou 10!!
Abraços,
Talita

monicuee disse...

parabéns a entrevista é realmente bilhante..uma porta muito grande pra quem quer seguir a arte com amor! por amor!
e eu aprendo muito com a talita ..mesmo longe !

monique