sexta-feira, 2 de maio de 2008

Entrevista com Ricardo Loureiro e Estrada 55

Continuando as entrevistas, a segunda entrevista é com o jornalista e produtor cultural Ricardo Loureiro, um verdadeiro doido, como se auto-define. Com objetivo de correr atrás de artistas e músicos independentes para divulgá-los através de um projeto independente que desenvolve chamado Estrada 55. Projeto que no próximo domingo, dia 04 de maio estará realizando a sua 45ª edição, realizado na Lapa 40 Graus, a partir das 20 horas.

Guerrilha Aberta: Qual é o seu trabalho?
Ricardo Loureiro: Correr atrás de artistas e músicos independentes desconhecidos do público e da mídia de grande circulação e se empenhar em divulga-los através de um projeto independente, objetivando formar platéias e sem patrocinadores ou uma empresa por trás disso é querer morrer de fome. Fora esta 'loucura', concluí o curso de Comunicação Social, fiz Jornalismo e trabalhei muitos anos e ainda trabalho, como assessor de imprensa para algumas empresas e para particulares. Produzi e editei um zine nos anos 1990, "Na Estrada Zine", e colaborei com outros como 'O Poeta e o Violão' e "O Comunicador Visual". Em agosto de 2004, idealizei o ESTRADA 55 (ex-Rolando na Estrada), para divulgar artistas, músicos em carreira solo, grupos e bandas independentes com trabalhos autorais de vários estilos, dentro de um evento com vários shows.


GA: O projeto tem avançado em relação a mostrar bandas e músicos fora da grande mídia? Como o público em geral tem reagido?
Ricardo: O Projeto ESTRADA 55 existe desde agosto de 2004, com a sua 45ª edição programada para o próximo domingo (04 de maio). Acredito que a nossa persistência mostra que o projeto e sua idéia básica têm vingado e avançado. Em 2007, fomos convidados para produzirmos e realizarmos um programa de rádio on-line, com o mesmo nome, ESTRADA 55, nos estúdios da Fundação Oswaldo Cruz - Fiocruz, no Rio de Janeiro, e lá tocamos composições de músicos em carreira solo, grupos e bandas independentes com trabalhos autorais, todas às sexta-feiras, de meio-dia às 3 da tarde. Quanto ao público, primeiro, temos que especificar que público é este. Se são músicos desconhecidos, como acharmos esse público? A princípio, a platéia é formada por pessoas interessadas pelo novo, no que está rolando fora da grande mídia, de outros músicos, artistas de modo geral, poetas, produtores. Também se compõe de amigos e parentes dos que vão tocar. O que tentamos fazer é levar este público (o que vai assistir aos shows dos amigos músicos) a tomar conhecimento dos outros artistas que estão no mesmo evento. Pensar em levar a massa para esses eventos é utópia, o que ela quer ver é o que está na 'moda', o que a televisão e os jornais mostram todo dia, toda hora, todo mês, todo ano. Quando eu falo de massa, são os milhões de brasileiros mesmo. O grande público tem o DIREITO de conhecer o novo, ele tem o DIREITO de fazer a sua opção pelo inédito. Talvez esteja faltando uma certa democratização dos meios de comunicação.


GA: O que você poderia dizer sobre a nova safra de músicos e casas noturnas pela noite do Rio de Janeiro. Tem sido fácil, produzir música no Rio de Janeiro?
Ricardo: O que eu produzo é um evento. Tudo começou quando ficou claro pra mim, que a produção musical no Brasil é enorme e que eu e milhares de pessoas que se interessam por música. Não tínhamos acesso a esta produção. Resolvi montar um projeto onde eu incluiria, além de músicos, poetas e artistas cênicos com pequenos esquetes para um evento com duração mínima de 3 horas, com objetivo de divulgar esta produção independente, desvinculada, sem qualquer mídia. Comecei a receber muito material e, com certeza, há uma excelente safra de músicos e compositores de excelente qualidade e que não têm nenhuma oportunidade de mostrarem seus trabalhos e, muito menos ainda, de viver dele. Quanto as casas noturnas, elas visam única e exclusivamente o lucro. Se o artista é famoso, tem uma produtora ou uma empresa patrocinadora ou uma gravadora investindo na divulgação deste artista, a negociação com as grandes casas noturnas é moleza. Mas quando se trata de levar ao público um espetáculo inédito mas sem este investimento anterior, torna-se praticamente impossível se estabelecer uma parceria entre a produção do show e a casa noturna. A solução é estabelecer esta parceria com bares, restaurantes ou alguns espaços culturais para se levar um show ou a realização de um projeto. Porém, em sua grande maioria, esses locais não estão nem aí para quem toca ou para quem produz cultura, eles visam apenas o lucro, como nos grandes estabelecimentos. Alguns desses locais chegam ao ponto de cobrar dos produtores e dos músicos uma determinada quantia para cobrir custos de energia elétrica, empregados da casa, etc. Na minha opinião, os responsáveis por essas casas deveriam contratar um produtor artístico ou um assessor de imprensa para traçar um perfil de sua prórpia casa e divulga-la na mídia ou em locais específicos para atrair o seu público para assistirem aos show que elas contratam. Claro que não são todas que trabalham assim, uma minoria é bastante consciente e profissional. Resumindo, não tem sido nada fácil produzir música no Rio de Janeiro.


GA: E você, como jornalista, como você avalia os espaços nos grandes jornais destinados a música e eventos culturais? Você poderia dizer um ponto positivo e outro ponto negativo desses espaços na grande mídia?
Ricardo: Os grandes jornais têm destinado um espaço bastante significativo à música e eventos culturais e isto é um ponto positivo, porém, como eu já disse, de nomes que têm um patrocinador ou uma gravadora por trás. Eventos culturais como o ESTRADA 55 que não contam com grandes investimentos - quando há algum, ele sai de nossos bolsos - deveriam ter, por parte dos grandes jornais, mais visibilidade. Muitos empresários que têm uma visão do mercado futuro, precisam conhecer produtos - ou projetos, como prefiro chamar - que já estão prontos, estão na ativa, feitos por pessoas comprometidas com a cultura e com o que realizam, e que precisam de um investimento empresarial. Os grandes jornais precisam se ligar nisso, afinal entre seus leitores, com certeza, existem empresários com esta visão.


GA: O que o estrada 55 e o jornalista e produtor cultural, Ricardo Loureiro quer aprontar para esse ano de 2008?
Ricardo: O que queremos é um estabelecimento fixo, onde possamos apresentar diariamente o nosso projeto, ESTRADA 55, com vários músicos, dentro de uma programação. Queremos colocar entrada gratuita e se conseguirmos um patrocinador esta realização se tornará possível, afinal, queremos que o grande público possa ter acesso a esses artistas, músicos em carreira solo, grupos e bandas independentes com trabalhos autorais de vários estilos. Um evento ao ar livre, também está em nossos planos e a continuação de nosso programa on-line via web com shows transmitidos ao vivo pela rádio Maré Manguinhos, na Fiocruz. Estamos prestes a realizar a edição número 50 do ESTRADA 55 e pode ser que acabe rolando um grande patrocínio para um grande evento, quem sabe?


GA: Finalizando, para você, o que é ser artista no Brasil?
Ricardo: Um obstinado e um sonhador ao mesmo tempo. O artista não pode nem deve desistir de seu sonho de ver seu trabalho realizado. O artista tem a necessidade de se expressar, é algo visceral, faz parte do ar que ele respira. E se no Brasil ele conseguir se manter financeiramente, exclusivamente neste ofício, levante as mãos para os Céus e agradeça. Você é um privilegiado por Deus.



SERVIÇO:

ESTRADA 55 (45ª edição) - MPB AO VIVO
Onde: LAPA 40 GRAUS (R. Riachuelo, 97, Lapa)
Quando: Domingo, 04 de maio, às 20h
Telefones: (21) 3970.1338 / 1329
www.lapa40graus.com.br
Entrada: R$5,00

PROGRAMAÇÃO:

20h00m - GANDHI GRECOV & JOANA VOLLMER 20h40m - VALMON 21h20m - DOUGLAS MALHARO 22h00m - MARCELLO SANTOS 22h40m - GRUPO VOCAL DÁ O TOM 23h20m - MAMMATCHAULLY

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ESTRADA 55 (46ª edição) - MPB AO VIVO
Onde: BIG BEN PUB (R. Muniz Barreto, 374 - Botafogo)
Quando: Segunda,
12 DE MAIO às 20h
Reservas: (21) 2286.8120 / 2538.1956
www.bigbenpub.com.br
Entrada: R$10,00

PROGRAMAÇÃO:

20h - MARCELLO SANTOS
21h - RAPHAEL CARIAS
22h - VALMON

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Ouça:
ESTRADA 55 on-line / (Link Alternativo)
E-mail: maremanguinhos@fiocruz.br

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