Baco criou o teatro num sábado sem bacanal.
“Que haja os trágicos”, disse Baco, e houve os trágicos.
“Que haja os cômicos”, disse Baco, e houve os cômicos.
Lindos, fortes e morenos, pois dadivoso era o dedo do Mestre.
E disse Baco: “Haja os festivais” e assim se fez. E disse Baco: “Que cante o coro”, e cantaram, mais de mil. E Baco os abençoou e disse: “Ide, representai toda a gente, pois dadivosa é a vontade do vosso Mestre e não faltará vinho para os músicos”.
Disse Baco: “Façamos o ator à minha imagem”, e criou o ator à sua imagem e o ator estava nu e sem culpa e Baco viu que era um bufão. E disse Baco: “Eis que te dou o talento e todas as virtudes do ato de representar. Habitarás os bastidores, camarins e coquetéis para a classe, terminando a noite no ‘baixo’, bebendo e fumando, até o garçom te expulsar. No dia seguinte começará tudo de novo”.
Disse o ator: “Merda”. E do seu Senhor recebeu máscara, texto e sapatos de salto alto. E Baco vestiu o ator com uma túnica e era noite de estréia.
Ora, o ator, feito à imagem e semelhança de Baco, percorreu por todos os caminhos da comédia e da tragédia e o povo riu e chorou, e a catarse foi completa.
Disse Baco: “Que a audiência aplauda” e o público aplaudiu.
“De pé” pediu o ator e assim fez Baco.
E Baco viu que esquecera de alguém. Disse então Baco: “Crie-se o crítico” e fez-se o crítico. E o crítico, criticou. E na estréia seguinte o diretor barrou o crítico.
E como não podia deixar de acontecer a festa de estréia virou um bacanal. E Baco feliz pois viu que sua criação era boa, baqueou até não agüentar mais.
E foi assim, e assim tem sido por todos os séculos e séculos.
Cai o pano.
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Quem é Leo Carnevale?
Ator, palhaço e diretor. Leo Carnevale desenvolve seu espetáculo "Pulitrica pelas ruas, praças e onde for bem vindo, sendo Palhaço Afonso Xodó. Há algum tempo, está desenvolvendo sua capacidade literária voltada ao humor, ao teatro e a palhaçaria, aqui apresentada como Galhofa
Um comentário:
Belo Texto! Parabéns pelo ótimo veiculo cultural!
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